É algo estranho envelhecer. No fim das contas, as coisas continuam iguais. No mesmo lugar, do mesmo jeito que sempre foram. Mas nós não as enxergamos assim, como se nada tivesse mudado. O tempo passa e, mais do que envelhecer, nós mudamos. Somos transformados pelas dores e alegrias, vitórias e derrotas, sucessos e fracassos, amores e solidões… enfim, somos transformados por tudo aquilo que nos toca, por mais bobo e fugaz que seja.

A experiência de ver nossa identidade diferente a cada vez que olhamos para o espelho produz uma sensação ao mesmo tempo maravilhosa e desalentadora, porque são essas metamorfoses que nos possibilitam olhar para a vida de um modo novo; mas, ao mesmo tempo, também produzem um sentimento de solidão terrível, como se a vida fosse feita apenas de desencontros e dor.

Cá da minha cabeça, tenho a impressão que o encontro mais profundo com o que somos nos traz um apetite delicioso pela vida, embora, contraditoriamente, proporcione lentes para que possamos enxergá-la sem fingimentos, falsidades e idealizações. Apenas a sua realidade cruel e solitária. E isso torna qualquer apetite silencioso.

É claro que, por vezes, queremos desvendar o mistério da vida com a nossa pequena e frágil existência. Talvez arrogância. Ou talvez, o desejo de se encontrar com a mais profunda condição humana. Desejo de prolongar o belo. Ser mais que um momentinho fugidio. Eternizar o finito. Queimar como poeira estelar e beijar o universo.

Não sei. Nossas vidas se movem de maneiras tão estranhas, distintas, incalculadas. Como, então, saber as razões do cosmos, o sentido de tudo, do amor, das nossas cargas psíquicas. O sentido deve estar em mover-se, em sentir o máximo que pudermos, porque com o tempo vamos perdendo a capacidade de sentir, como se uma aridez tomasse conta dos solos de nossas almas.

No fundo, a gente espera um pouco mais. Ninguém quer que sua vida seja um roteiro até o seu funeral. Mas é tão difícil viver. E mais ainda sonhar. No entanto, o que se pode fazer com o tempo a não ser aceitar que ele também se aproveita de nós? Ser um filho teimoso? Possivelmente. Os obedientes e resignados, nesta história, não herdam o reino dos céus.

No reino deste mundo, viver é se equilibrar no fio da navalha, sabendo que somos seres dialéticos: entre construções e ruínas. Sem respostas para tudo, mas com a capacidade infindável de fazer perguntas. E, acima de tudo, com olhos para ver o que há de maravilhoso entre o real. Afinal, se somos estrelas, o que haveria de ser mais divino?