Vivemos em uma sociedade que nos exige cada vez mais. Somos cobrados por produtividade, performance, resultado, sucesso, felicidade, positividade. Somos bombardeados por informações, estímulos, oportunidades, comparações. Somos pressionados a fazer mais, melhor, mais rápido, mais fácil. Somos levados a acreditar que podemos tudo, que somos livres, que somos responsáveis pelo nosso destino.

Mas será que essa sociedade nos faz bem? Será que esse ritmo acelerado e essa exigência constante não nos adoecem e nos entristecem? Será que não estamos vivendo na sociedade do cansaço?

O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han cunhou esse termo para descrever o modelo de produção da última fase do capitalismo, que naturalizou a cobrança excessiva por desempenho e positividade. Segundo ele, vivemos em uma sociedade que nos explora até o limite, que nos faz trabalhar além da nossa capacidade, que nos faz sentir culpados e fracassados quando não atingimos as metas impostas ou desejadas. Essa sociedade nos leva ao esgotamento físico e mental, favorecendo o surgimento de patologias como ansiedade, depressão, síndrome de burnout, déficit de atenção, hiperatividade, entre outras.

Além disso, essa sociedade nos isola e nos individualiza. Vivemos cercados por outras pessoas, mas estamos sozinhos dentro de nós mesmos. Não temos tempo ou disposição para cultivar laços afetivos profundos e duradouros. Não temos espaço para expressar nossas emoções negativas ou nossas fragilidades. Não temos diálogo ou solidariedade com os outros. Vivemos em uma bolha de egoísmo e competição.

E ainda por cima, essa sociedade nos obriga a ser positivos o tempo todo. Temos que sorrir mesmo quando estamos tristes, temos que ser otimistas mesmo quando estamos desesperados, temos que ser gratos mesmo quando estamos insatisfeitos. Temos que fingir que estamos bem mesmo quando estamos mal. Essa positividade tóxica nos impede de reconhecer e lidar com nossos problemas reais. Nos impede de buscar ajuda ou mudança. Nos impede de ser autênticos.

Diante desse cenário, podemos afirmar que sofremos da soma de todos os cansaços. Não se trata apenas de um cansaço físico ou mental, mas de um cansaço que envolve todas as dimensões do nosso ser: física, mental, emocional, espiritual, social, sensorial e criativa.

O cansaço físico é aquele causado pelo esforço excessivo do nosso corpo, seja por atividades físicas intensas ou prolongadas, seja por doenças ou condições que afetam nossa saúde. O cansaço físico pode levar à fadiga e à falta de energia.

O cansaço mental é aquele causado pelo excesso de tarefas e pensamentos que ocupam nossa mente. Seja por trabalho, estudo, notícias, redes sociais ou qualquer outra fonte de informação ou estímulo. O cansaço mental pode levar à dificuldade de concentração, de memória, de raciocínio e de aprendizagem.

O cansaço emocional é aquele causado pela pressão psicológica, pelo estresse, pela ansiedade, pela depressão ou por qualquer outro transtorno que afete nosso equilíbrio emocional. O cansaço emocional pode levar à irritabilidade, à tristeza, à angústia e à perda de interesse pela vida.

O cansaço espiritual é aquele causado pela falta de sentido ou propósito na vida, pela contradição entre nossos ideais e nossas ações, pela perda de fé ou esperança. O cansaço espiritual pode levar ao vazio existencial, à desorientação, à apatia e à falta de motivação.

O cansaço social é aquele causado pela dificuldade de se relacionar com os outros, pela falta de apoio ou reconhecimento, pela solidão ou pelo isolamento. O cansaço social pode levar ao afastamento, à indiferença, à hostilidade e à falta de empatia.

O cansaço sensorial é aquele causado pelo excesso de estímulos que afetam nossos sentidos, como sons, luzes, cores, cheiros, sabores ou texturas. O cansaço sensorial pode levar à sensibilidade excessiva, à irritação, à confusão e à perda de prazer.

O cansaço criativo é aquele causado pela falta de inspiração, de inovação, de expressão ou de realização. O cansaço criativo pode levar à repetição, à monotonia, à frustração e à falta de autoestima.

Como podemos ver, a soma de todos os cansaços é um problema sério e complexo que afeta nossa saúde e nossa qualidade de vida. Não podemos ignorá-lo ou minimizá-lo. Precisamos reconhecê-lo e enfrentá-lo. Mas como? Como podemos combater a soma de todos os cansaços? Como podemos recuperar nossa energia e nossa alegria? Como podemos viver com mais sentido e propósito?

Para concluir, podemos dizer que a soma de todos os cansaços é um reflexo da sociedade do cansaço em que vivemos. Uma sociedade que nos explora, nos isola e nos obriga a ser positivos. Uma sociedade que nos faz adoecer e nos entristecer. Uma sociedade que nos impede de ser quem somos e de viver como queremos.

Mas não precisamos aceitar essa situação passivamente. Podemos resistir e mudar. Podemos buscar formas de cuidar de nós mesmos, de nossas necessidades, de nossos sonhos. Podemos buscar formas de nos conectar com os outros, com a natureza, com a arte, com o sagrado. Podemos buscar formas de expressar nossa criatividade, nossa autenticidade, nossa singularidade.

Podemos buscar formas de viver com mais saúde e mais felicidade. Podemos buscar formas de viver com mais sentido e mais propósito. Podemos buscar formas de viver com menos cansaço e mais energia.

Esse é o desafio e a oportunidade que temos diante de nós. Depende de nós escolhermos como queremos viver: cansados ou felizes?