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Por mais que você diga que não, eu sei que, de alguma maneira, a vida do outro o afeta, seja pelo que ele faz, deixa de fazer ou até a simples curiosidade de saber o que alguém faz da própria vida, às vezes, nos perturba demais.

Mas por que será que as atitudes de alguém que, às vezes, nem conhecemos ou nem faz parte da nossa vida acabam nos afetando tanto? Como é possível que a maneira como o outro vive e as escolhas que ele faz para si podem acabar sendo trazidas para dentro de nós como se fossem nossas?

É até engraçado como muitas pessoas saem realmente do sério quando são expostas a outras pessoas que vivem vidas diferentes. Alguns ficam desconcertados, com preconceito, raiva e, o mais comum, tentando convencer o outro de que a maneira como ele vive está errada.

Enfim, é fato que a vida do outro nos afeta, mesmo a de um completo estranho – incomodamo-nos quando vemos alguém fazer algo que não achamos certo. Mas também é fato que o que o incomoda no outro tem muito mais a ver com você do que com o outro.

Você provavelmente já ouviu a frase “O que não gosto em você, corrijo em mim”, a qual é frequentemente associada à ideia de que se eu não gosto de algo em você, eu mudo algo em mim para poder aceitar como você é.

Mas, de qualquer maneira, eu estou mudando algo em mim por conta de outra pessoa, estou sendo afetado do mesmo jeito. Acredito então que o melhor seja realmente procurar não se importar de verdade com o que o outro pensa e faz com a vida dele.

Se nós realmente não ligamos para como o outro vive a própria vida, temos a real liberdade de viver a nossa vida, do nosso jeito, porque se você prestar atenção, essas mesmas pessoas que estão se afetando pela vida dos outros também pautam a sua vida pensando nos outros.

Por exemplo, na mesma intensidade que nos sentimos agredidos por alguém que consegue viver de um jeito muito diferente, nós também acabamos vivendo a nossa vida baseados no que os outros pensam. Você faz ou deixa de fazer algo, que às vezes é de sua vontade, porque outra pessoa pode julgar você.

E é aí que chegamos a uma reflexão: para muitas pessoas, aceitar a maneira como o outro vive significa entender que algumas coisas que você faz ou acredita podem estar erradas.

Vamos imaginar que para uma pessoa que viveu grande parte da sua vida acreditando em algo e fez suas escolhas baseadas nisso, para que ela aceite realmente que outra pessoa possa viver tendo feito escolhas diferentes das suas, ela terá que rever a maneira como tem vivido até ali.

E isso é um possível motivo para a maneira como as pessoas são tão afetadas pela vida dos outros e brigam entre si para provar quem está certo. Porque, se forem, de verdade, aceitar essa diferença, isso vai balançar as estruturas de uma vida inteira, levando a questionamentos sobre as próprias escolhas, deixando-as ansiosas e meio perdidas. Por isso, é bem mais fácil cristalizar a sua maneira de viver e dizer que o outro está errado do que tentar aceitar e acabar sendo forçado a repensar a própria vida.

Mas ainda acredito que a melhor maneira de conviver com as diferenças é aprender a não julgar os outros e com isso deixar de ligar para o que os outros pensam de você.

Acredite: do mesmo jeito que você julga os outros, acaba moldando sua vida na maneira como os outros esperam vê-lo. No final, não deixa o outro viver a vida dele e nem você vive a sua.

Todo mundo acha que vai ser feliz com a vida que tem e as escolhas que fez, e no meio do caminho percebe que não dá pra ter essa felicidade mitológica. E mais difícil ainda é ver outra pessoa bem diferente de você mostrando essa felicidade que você sempre quis ter.

Então, quem busca legitimar suas escolhas e dizer que o outro está errado toma uma medida, na verdade, desesperada, de alguém que não está satisfeito com a própria vida.

Portanto, lembre-se: todos vivem as angústias e prazeres das escolhas que fizeram, não importa o que se faça, a vida é um caminho cheio de tropeços. E fica bem mais difícil se você ficar olhando o caminho dos outros em vez do seu.

Gabriel Fraga

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