Você precisa fazer as pazes com o seu passado, de uma vez por todas. Eu sei que você carrega muitos arrependimentos, por coisas que você fez, e, principalmente, pelo o que deixou de fazer. Provavelmente, você se arrepende dos incontáveis “nãos” que deixou de dizer, apesar de ter  sentido muita vontade de tê-los ditos em alto e bom tom. É fato que aqueles “sins” que dizemos apenas da boca pra fora atormentam  a nossa paz, é como se a nossa alma nos acusasse de traição, com toda a razão.

Pois é, não sei, ao certo, o que mais tem roubado a sua paz em se tratando daquilo que ocorreu lá no passado. Talvez seja um amor que  você não teve atitude suficiente para vivê-lo, apesar de tê-lo desejado de forma tão visceral. Quem sabe, você teve receio de enfrentar a sua família que se opunha; ou, quem sabe, você foi vítima do seu próprio preconceito e, hoje, olha pra trás e sente-se profundamente inconformado. Só para ilustrar, eu já ouvi um desabafo de um senhor que disse ter sido apaixonado por uma moça na juventude, porém, optou por abrir mão porque ela  tinha um filho e a família dele idealizava que ele se casasse com uma moça virgem. O amor era recíproco e ambos sofreram demais pela ruptura. Ele casou-se com outra moça, mas nunca esqueceu aquela paixão a quem ele disse “não” por pura covardia.

Por todos os  lados, encontraremos pessoas cheias de “e se”.  São aquelas pessoas que, por alguma razão, não deram vazão ao próprio querer nas decisões  mais importantes das suas vidas. Só para ilustrar: conheço um padre que não gostaria de ser padre, porém, usa uma batina em obediência a uma promessa que sua mãe fizera durante o parto dele. Ele já me disse que se arrependeu de ter cedido aos anseios da mãe, contudo, a essas alturas, sente-se incapaz de frustrar a memória dela.

Existem pessoas exercendo uma profissão que alguém escolheu para elas, existem relacionamentos arranjados, nos quais a “união” se deu porque alguém entendeu que eles dariam certo. Existem mulheres que não têm uma profissão porque cederam à pressão do marido e optaram por sepultar os sonhos da realização profissional. Longe de mim julgar  aquelas mulheres que optaram por se dedicar apenas à família, desde que elas estejam felizes. Me refiro àquelas mulheres que fizeram essa escolha por pressão externa e que, consequentemente, estão muito insatisfeitas.

Uma das piores sensações para uma pessoa é  perceber que ela não é a  responsável pelas próprias escolhas. Essas situações agem como um verdadeiro trator sobre a autoestima do indivíduo, podendo levá-lo  a um profundo sofrimento psíquico, sendo inclusive um gatilho para doenças emocionais como a depressão. Afinal, como ser feliz e, emocionalmente saudável, tendo a consciência de que não está vivendo de verdade? Como sentir-se motivado se dando conta de que está  vivendo  em prol dos outros e suprimindo as próprias vontades?

Contudo, diante de tudo o que foi exposto, chamo a sua atenção para um detalhe: Sempre é  possível você fazer alguma mudança em seu favor. Arregace as mangas e comece o quanto antes. Sabemos que algumas situações são de consequências irreversíveis, porém, é necessário buscar uma nova forma de lidar com aquilo que você temos em mãos. Eu quero lembrá-lo de que sempre é possível buscar algo novo para adornar a nossa vida.
O problema é que a gente mesmo se limita, a gente está sempre insistindo em focar nas dificuldades. A gente acha desculpa na idade, no estado civil, na distância, no clima e, por aí vai.  Querido(a), entenda uma coisa: se você for esperar a situação ideal para realizar algo, você nunca vai realizar nada. A gente precisa, às vezes, ir  com a cara e a coragem buscar um sentido para a nossa existência. Eu quero apenas que você olhe a sua vida, e, mesmo diante de tanta insatisfação, procure algo para se motivar.

Há de ter alguma semente aí nessa bagunça toda que você possa plantar, cultivar e esperar pelos frutos. Todos os dias somos agraciados com um amanhecer, desperte também, qualquer hora dessas e faça algo por você. Aquele algo que você tanto desejou não morreu, apenas adormeceu dentro da sua alma. As sementes dos nossos sonhos nunca morrem, elas são imunes ao tempo e às intempéries da vida. Eu sei do que estou falando. Quem escreve aqui é uma pessoa que sempre sonhou em ser escritora, contudo, havia sepultado esse sonho. Daí, aos quarenta anos, ela foi lá e desenterrou o sonho. Esse sonho é a semente mais preciosa e fértil da minha vida porque foi plantada pela criança que fui um dia. Vou escrever pelo resto da minha vida e compartilhar minhas vivências e conhecimentos com vocês.