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Se tem uma coisa que esta pandemia fez foi mudar o nosso dia a dia, pois hoje as pessoas se preocupam muito mais com higiene e distanciamento. E sair sem máscara é como sair sem roupa. Por conta dessas e outras mudanças, estão chamando o “agora” de o “novo normal”. O engraçado é pensar: “Como o que é normal pode mudar?”. Geralmente, consideramos como normal algo que não muda, mas não existe nada neste mundo que não possa mudar. Quando nascemos, nos é apresentado o mundo de uma maneira. Nós aprendemos sobre ele dessa mesma maneira e vivemos baseados nisso.

Somos ensinados a ver as coisas como se nunca mudassem, como se tudo sempre estivesse aqui e sempre fosse estar. Porém, achar que as coisas simplesmente são o que são é um erro, pois o mundo foi feito como ele é hoje, mas poderia ter sido feito diferente – ele já foi diferente um dia e será diferente no futuro. E eu não estou me referindo apenas às estruturas, prédios e cidades, mas sim à mudança real que está nos costumes, na cultura e na maneira de pensar e de se comportar do ser humano.

Hoje, por exemplo, é extremamente normal andar com smartphones. Inclusive, pessoas que nasceram na época da televisão em preto e branco passaram pela novidade da TV em cores, depois viram o surgimento da ideia “absurda” da internet e hoje estão com celulares nas mãos.

Não precisa nem voltar muito no tempo. Há 50 anos, se você descrevesse a sociedade atual, com carros elétricos e autônomos, foguetes pousando em pé e principalmente dizendo ser a nossa vida tão virtual, com certeza iriam chamar você de maluco e dizer que nada disso é normal.

Mas o que mais mexe com a nossa cabeça nem são as mudanças estruturais e tecnológicas do mundo, e, sim, as mudanças sociais e culturais – essas são muito mais difíceis de serem aceitas pelas pessoas. Uma pessoa que nasceu vendo TV em preto e branco e hoje usa muito bem um smartphone, provavelmente, não aceita bem algumas mudanças sociais que aconteceram nesse mesmo período.

A ideia do que é normal, quando levada para questões sociais, culturais e de comportamento, ganha também o status de certo e errado. Daí as coisas não são só normais como também se tornam o certo a se fazer ou ser. A partir desse pensamento, começa grande parte dos problemas entre as pessoas e entre gerações, pois cada um vai defender suas crenças como imutáveis, como o jeito certo de se viver.
De certo ponto, é possível entender o motivo disso: para algumas pessoas, entender e aceitar a maneira completamente diferente como o outro vive pode significar que a maneira como você vive esteja errada. Mas acredito que, tratando-se de como cada um vive a própria vida, não exista certo ou errado, que só existam maneiras diferentes de passar por este mundo.

No entanto, tenha cuidado com as certezas que você tem na vida. Dos muitos significados que a sabedoria pode ter, eu digo que sabedoria é envelhecer com mais dúvidas sobre a vida do que com respostas, pois o universo, o mundo e o próprio viver se mostram muito grandes e complexos para que no intervalo de uma única vida se possa ter todas as respostas.

Nem em toda a existência humana até aqui obtivemos as grandes respostas do universo e do objetivo da vida, então, é muito provável que nunca teremos todas essas respostas. Desde o descobrimento da lei da gravidade até o das ondas gravitacionais sempre existe algo além para se aprender e descobrir. Desse modo, ter uma vida cheia de certezas é limitar-se a si mesmo e na pequena existência que cada um tem aqui na terra. Uma frase que eu gosto bastante é: “Quando se pensa que sabe de tudo, está errado”.

Sabe aquela pessoa que nem é tão velha, mas é rabugenta e reclama de tudo? Muito provavelmente seja o caso de uma pessoa que envelheceu com muitas certezas na vida. Sendo assim, não consegue aceitar as mudanças do mundo à sua volta e vive reclusa em si mesma, achando que tem as respostas para tudo e que ninguém a respeita. Essa é uma maneira muito triste de envelhecer. Embora você deva viver de acordo com o que acredita, achar que essa é a única maneira certa só vai o fazer se distanciar cada vez mais do mundo e das pessoas.

Então eu deixo um questionamento: vocês querem se tornar velhos cheios de certezas ou de dúvidas? E quando eu me refiro a dúvidas, não é em relação ao não saber ou à ignorância, mas sim à capacidade de entender que existe o diferente e que sempre há muito mais a se descobrir.

A ironia do exemplo do velho ranzinza é que, hoje em dia, a maioria dos ranzinzas são os jovens, a maioria dos que acham que sabem tudo são os jovens. Não sabem conversar, não sabem discutir ideias e tudo é na base do “eu estou certo e você errado”.

Mas, se for para ter alguma certeza além da morte, eu repito que seja a de que as coisas são o que são porque foram feitas assim; elas poderiam ser diferentes, foram diferentes no passado e serão diferentes no futuro. A maior certeza da vida é que ela muda.

E o fato de se ter uma juventude cada vez mais cheia de certezas, em que tudo começa e termina em si mesmo, mostra, na verdade, que, embora estejamos cada vez mais inteligentes, não entendemos nada da vida.

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