Essa mania que temos de enjoar das coisas e das pessoas nos leva a grandes perdas. Parece que estamos sempre esperando mais, querendo outra coisa, e desse modo não conseguimos desfrutar o que já temos, o que já conquistamos. Nutrir sonhos e ser ambicioso é positivo, mas somente olhar para o que se quer muitas vezes nos cega frente a tudo o que já possuímos.
Em meio a essa frenética busca pelo que almejamos infelizmente podemos acabar nos distanciando de pessoas que estão junto de nós e que nos ajudaram a conquistar o que temos e somos hoje. Desgastamos, assim, um relacionamento que nos fortaleceu, de tanto que nossos olhos só parecem enxergar lá na frente, tornando-nos cegos em relação a quem já está ao nosso lado, lutando e sonhando conosco há um bom tempo.
De tanto ansiarmos pelo novo em nossas vidas, às vezes deixamos de valorizar o que já é parte do nosso dia a dia, descuidando-nos das várias riquezas que a vida nos concedeu. Por isso tantos relacionamentos deixam de ser amorosos para se tornarem um descompasso de idéias, desejos e objetivos. Por essa razão é que muitas vezes deixamos escapar por entre os dedos o amor maior de nossas vidas, em troca de infidelidades efêmeras e vazias de afetividade.
Por que procurar alguém lá fora quando já existe alguém que nos ama e dedica parte de sua vida à nossa? Por que achar que todo o amor que um dia uniu dois corações apaixonados morre de uma hora para outra, sem possibilidades de renovação? Por que parar de sorrir para a pessoa que dorme ao nosso lado, de roubar-lhe beijos furtivos, de tocar-lhe as mãos, de perguntar-lhe como se sente, de enviar-lhe mensagens apaixonadas e declarar o nosso amor e admiração?
Os sentimentos podem parecer adormecidos, dada a carga de trabalho excessiva e de preocupações que se avolumam em nossa vida, mas se já houve amor sincero, possivelmente ainda há uma fagulha dele que possa ser reacesa. Precisamos ser gratos à pessoa que esteve ao nosso lado por tempos, pois tudo o que obtivemos e construímos deve-se a ela também. Gratos e dispostos a reencontrar dentro de nós os sentimentos que pareciam perdidos, porque provavelmente o amor está entre eles, esperando por força e motivação de nossa parte.
Amores acabam, sim, mas não é fácil algo tão pungente e mágico, como o é um amor verdadeiro, arrefecer por completo. Não podemos deixar o tempo transformar em túmulo os nossos desejos, principalmente em relação a alguém que entrou na nossa história e a tornou melhor e mais completa. É preciso acordar disposto a alimentar o amor, todos os dias, a qualquer momento, onde estiver. É preciso lembrar que estamos juntos com alguém que pelo menos já foi o amor de nossas vidas, e que muito provavelmente sempre o será.
Cultivemos os sentimentos que nos uniram com nosso amado, dedicando-lhe parte significativa de nossa atenção, de nosso olhar, de nossa vida. Se acalmarmos os nossos passos e não permitirmos que a frieza do mundo lá fora adentre nossos sentidos, estaremos prontos para amar de novo e de novo quem sempre esteve ali bem juntinho, nos momentos de gozo e de sofrimento, lutando por nós e acreditando em nossos sonhos.
O amor possui uma força descomunal e uma capacidade inesgotável de se reinventar
Ele ressignifica nossa vida, tornando-a sempre mais gostosa de se viver, junto às pessoas que nos amam de verdade. Antes de desistirmos, portanto, é preciso que busquemos nos apaixonar e nos reapaixonar pelos olhos cúmplices que buscarão pelos nossos todos os dias, até o fim de nossas vidas.
Marcel Camargo
Graduado em Letras e Mestre em “História, Filosofia e Educação” pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica.
FONTE A mente é maravilhosa