Já ouviu aquele ditado que diz que “quem fala o que quer escuta o que não quer”? Talvez o intuito do ditado seja o de alertar pessoas que falam mais do que deveriam, mas ele também serve para demonstrar muito bem a maneira como a nossa mente funciona se tratando de comunicação.

A gente realmente fala o que quer: os pensamentos fluem pela nossa cabeça, mas só sai da nossa boca o que queremos falar. Porém, não temos nenhum controle sobre o que o outro vai entender do que dissemos.

Você conhece a brincadeira do telefone sem fio? Aquela brincadeira antiga que se consistia em alguém falar no ouvido de uma pessoa uma frase, e essa pessoa falar o que ouvira no ouvido da próxima pessoa e assim por diante, até a última pessoa ouvir e dizer qual era a frase original.

O divertido da brincadeira era justamente que, em um determinado ponto, ninguém mais sabia qual era a real frase, além daquele que falou primeiro, pois ela mudava completamente enquanto as pessoas falavam umas com as outras, e quando a última pessoa falava o que entendia, verificava-se que a frase era completamente diferente do que fora dito pela primeira vez. Isso é muito interessante, pois a mente humana, de certa maneira, também funciona assim: nós temos controle sobre o que falamos, mas não temos controle sobre o que o outro escuta e entende.

Na brincadeira do telefone sem fio, a frase muda não no momento em que é dita, mas no momento em que é ouvida, pois o outro repete o que acha que está certo – alguns mudam a frase de propósito, outros realmente falam o que entenderam, e esse conceito está completamente presente na vida social.

Vamos pensar! Sempre existe alguém mal intencionado, que gosta de causar problemas, deturbar o que o outro diz e passar a informação errada intencionalmente. Hoje em dia chamam isso de “fake news”, mas a maioria das pessoas simplesmente passa a informação diferente porque entendera assim.

A gente entende o mundo de acordo com o que nós somos. Nossas experiências de vida, nossa personalidade, cultura, tudo isso e mais formam, como resultado, o indivíduo que cada um é hoje.

Então, o que entendemos do mundo e da vida é algo extremamente pessoal e resulta de tudo o que nos tornamos até aqui. Não é à toa que você olha de maneiras diferentes para a mesma coisa durante sua vida, como, por exemplo, para a releitura de um livro, que pode fazê-lo entender ou ver coisas diferentes a cada vez que ela acontece.

Assim, por mais que eu me esforce para passar uma informação precisa aqui neste texto, eu não posso garantir que todos vocês irão entender o que eu estou realmente querendo dizer. Cada um de vocês é um indivíduo diferente e com experiências próprias de vida, e isso faz mudar completamente o significado das coisas para cada um. Você entende o mundo e a vida de acordo com o que já está predeterminado em sua mente.

Mas então é só isso? Não. Nós devemos nos esforçar para entender, do melhor modo possível, as informações que chegam até nós e, principalmente, ser cautelosos com o que repassamos para os outros. Mesmo que o que a gente entenda não nos agrade, o melhor é dar o benefício da dúvida antes de fixar tal informação em nossas cabeças.

Até alguém íntimo pode falar algo para você que você não goste, mas às vezes a intenção de quem diz não passa nem perto da maneira como interpretamos, então a paciência, a calma e o diálogo são de extrema importância em nossas relações.

O mais comum é assumirmos a responsabilidade pelo que falamos, mas pouco se fala em assumirmos a responsabilidade pelo que entendemos, e isso pode ser até pior do que falar algo considerado errado. A comunicação é uma via de mão dupla.

Será que se você se ofender por algo que eu disser, mesmo sem eu ter a intenção de ofendê-lo, me faz culpado pelo seu sentimento de ter sido ofendido? Ou isso é um problema só seu?

Se tudo o ofende, se tudo o irrita e não o agrada, é muito mais provável que o problema esteja em você e na maneira como você vê e recebe a vida do que no outro.