Luiz Felipe Pondé em um trecho do Café Filosófico falou sobre o porque algumas pessoas se afastam quando nós declaramos afeto por elas. Confira abaixo a transcrição do trecho.

Por que o amor afasta? Por que as pessoas se distanciam quando dizemos que gostamos delas? E nem precisa ser o amor carnal: só o fato de gostarmos já afasta e assusta algumas pessoas. É porque, às vezes, quando você diz para uma pessoa que a ama ela se sente cobrada, sente que você tem uma expectativa de retorno, e se ela não está disposta a fornecer esse retorno ela poderá se tornar um transtorno em sua vida. Sabemos, ainda, que uma pessoa que diz gostar muito de você pode ser a mesma que, em determinado momento, pode se virar contra você. A pessoa que diz que ama também pode ficar chata, pois ela entende que hipotecou o seu comportamento ao dizê-lo, assim, você se torna devedor dela. E já que ela o ama, você deverá atendê-la a qualquer momento.

Não é necessariamente bom ser amado o tempo todo e por todo mundo, pois isso pode asfixiar. É o caso de pais que têm um único filho, o amam demais, e, por isso, esse filho torna-se, de certa forma, problemático. Temos que tomar cuidado com o excesso de expectativa criada ao redor do amor a partir do século XVIII e XIX como uma forma de vida pura e entender que é natural uma pessoa fugir quando outra diz que a ama. A pessoa que foge talvez não queira o amor daquela pessoa ou talvez não queira aquele tipo de amor, além de saber que se a pessoa que a ama se machucar esta poderá se converter em uma inimiga. Afora esses fatores, há também o receio de que o amor asfixie.

Existe, no mundo contemporâneo, uma excessiva expectativa em relação à vida afetiva, como se esta consertasse as coisas e servisse de cola quando, na verdade, há nas paixões uma dimensão fora de controle.

Em resumo, a pessoa que foge quando você diz que a ama pode estar indicando que ela não o ama, que tem receio de que você fique chato ou que tem algum trauma relacionado com alguém que lhe disse o mesmo. Então, não é porque você diz que ama uma pessoa que ela tem que gostar do seu amor; às vezes, não é preciso gostar do amor tanto assim.

Transcrição feita e adaptada pelo Provocações Filosóficas do trecho do Café Filosófico Especial – O que move as paixões com Luiz Felipe Pondé e Clóvis de Barros Filho.

Confira o trecho: 

Luiz Felipe Pondé, possui graduação em Filosofia Pura pela Universidade de São Paulo (1990), mestrado em História da Filosofia Contemporânea pela Universidade de São Paulo (1993), DEA em Filosofia Contemporânea – Universite de Paris VIII (1995), doutorado em Filosofia Moderna pela Universidade de São Paulo (1997) e pós-doutorado (2000) em Epistemologia pela University of Tel Aviv.

Atualmente é professor assistente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, professor titular da Fundação Armando Álvares Penteado.