Nós, seres humanos, estamos sendo apartados pelas mudanças tecnológicas, pelas
crises climáticas e pela ideologia do individualismo, que são as causadoras das principais
doenças psíquicas: depressão, ansiedade, angústia, fobias, neuroses e psicoses, que nos
levam ao mal-estar e à solidão.
A política econômica neoliberal desempenha um papel crucial nesse processo. Criou-se a
falácia que a pobreza e o desemprego são culpa dos “perdedores”, que não têm
aspirações e são maus gestores da vida privada.
Porém, ninguém gosta de ser responsável pelo próprio fracasso. É mais fácil culpar os
que perderam seus empregos e a batalha contra as doenças, acusando-os de incapazes
de enfrentar a competição e a meritocracia.
O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han nos alerta que essa realidade está nos deixando
doentes, porque quem fracassa na sociedade neoliberal sente-se culpado pelo seu
fracasso. Além disso, a pessoa direciona a agressão a si mesma, que transforma o
explorado em um ser depressivo.
A mídia alimenta os desejos impossíveis. E o sistema educacional contribui com essa
ideia, que somente os mais competitivos irão conseguir os melhores empregos e lugares
na sociedade, onde as oportunidades reais são escassas.
Por isso que o consumismo preenche o nosso vazio emocional. Os jovens são os mais
atingidos na sua subjetividade: postam fotos nas redes para parecerem que são bonitos e
magros. Mas quando tais desejos não se realizam, a automutilação é usada como forma
de aliviar a dor emocional.
Portanto, o mal-estar e a solidão não são apenas problemas particulares e sim coletivos,
ou seja, que o “fracasso” nunca é meramente individual, mas uma responsabilidade dos
governos e da sociedade.
Enfim, precisamos buscar – soluções conjuntas – para as nossas inquietações,
interrompendo os ciclos geradores das doenças psíquicas. Para Han “é um chamado à
resistência frente a fenômenos como a produtividade sem limites, a digitalização da
vida e a servidão consentida”.
Jackson César Buonocore
Sociólogo e psicanalista