Sob o impulso do amor e no desejo frenético de amar sem medida, a promessa se exibe solta, como se não tivesse peso algum, ou como se jamais fosse surgir outra possibilidade que pudesse contestá-la. Felizes para sempre é um juramento que se faz desde os tempos de Era uma vez, e que pode significar tormento ou paraíso, segurança ou detenção.

Atribuída a Fabrício Carpinejar, eis a seguinte reflexão: “Temos o direito de fazer promessas de amor que nunca serão cumpridas. Não há graça nenhuma em falar somente aquilo que se pode fazer”.

Muitos discordariam, sem dúvidas, porque há um consenso que diz que promessas deveriam ser feitas com a intenção de serem honradas. Talvez seja exatamente por esse certo ar de impulsividade com que algumas promessas são feitas, que as românticas sofrem com o malefício da dúvida. E é mesmo difícil crer em afirmativas feitas de olhos fechados e coração batendo a mil por hora.

Não se pode negar que algumas promessas apesar de terem sido feitas por impulso, têm por trás um enorme desejo de que se tornem realidade, embora sejam muito difíceis de serem cumpridas.

Rubem Alves, em uma lucidez de fazer gosto afirma que: “Somos donos dos nossos atos mas não donos dos nossos sentimentos. Somos culpados pelo que fazemos mas não pelo que sentimos. Podemos prometer atos, mas não podemos prometer sentimentos. Atos são pássaros engaiolados. Sentimentos são pássaros em voo.”

Já Clarice Lispector avisa aos prometedores de plantão: “Quando você diz “Eu te amo”, está fazendo uma promessa com o coração de alguém. Tente honrá-lo.”

Se a felicidade ainda perdura, mesmo com todos os desafios e percalços, temos aqui um prêmio aos muitos esforços que foram feitos para que a felicidade fosse uma condição permanente. Os felizardos fizeram do compromisso assumido uma prioridade que, sabiamente, não foi substituída por nada, apesar de certamente terem visto surgir outras possibilidades interessantes.

Porém, se relacionamento e felicidade são palavras que não podem ser usadas na mesma frase, a promessa transformou-se em prisão, e não está mais sendo cumprida a termo. Cabe a quem está sendo lesado, tomar as providências cabíveis, que nesse caso, é reaver a liberdade perdida.

Ficar infeliz e ainda assim permanecer no mesmo lugar é atitude de quem se deixou engaiolar.

Talvez encontre suas justificativas, dizendo que se trata de uma questão de honra. Por desaforo não vai abrir mão porque prometeu ficar. Acabou o romance, acabou a alegria, mas ainda assim, sente-se na obrigação de continuar. Talvez seja mais um caso da síndrome da rã fervida, que não percebeu que as condições deixaram de ser favoráveis; nesse caso a rotina já constituída parece um atrativo. E realmente é difícil deixar uma zona já conhecida para lançar-se num recomeço incerto.

Recomeços não são fáceis, por isso nem sempre são a primeira opção. Há aqueles que temem possíveis olhares e discursos de reprovação caso decidam que a promessa tornou-se uma prisão que não querem mais enfrentar.

Certo é que ninguém tem o poder de julgar as decisões de ninguém. Só quem estabeleceu os vínculos é que pode tomar a decisão de ficar ou não.

Por fim, talvez o mais prudente seja dizer que o felizes para sempre é questão de opinião. Há quem diga que é perfeitamente possível. Há quem diga que não, não é. O mais importante não é saber quem está com a razão. O mais importante é ser feliz a dois ou a sós, esteja isso baseado em promessas ou não.