Em um trecho do Flow Podcast, Eduardo Marinho fala sobre a dificuldade de pedir comida nas ruas e como as pessoas se chocam quando alguém lhe pede algo sem se humilhar. Abaixo você pode ler a transcrição do trecho.
Antigamente, eu pedia comida olhando no olho das pessoas – eu ainda não sabia vender meus artesanatos. O ato de pedir é uma grande escola se não nos deixamos humilhar por isso. Por exemplo, se eu chego em um restaurante e vejo o dono do estabelecimento, vou até ele e digo: “Estou viajando de carona, sem dinheiro, e estou sem comer há alguns dias. Estou com muita fome, e você está cheio de comida aí. Me dê um prato de comida, sem carne, porque não como carne, e isso vai ficar até mais barato para você. Você vai me negar um prato de comida? Não acredito nisso!”.
Ele se espanta pelo fato de alguém que esteja pedindo comida fale de igual para igual com ele, sem humilhação. Se ele negar o prato de comida, eu me retiro. Já aconteceu de me retrucarem: “Mas você quer comida sem trabalhar?”. Respondi: “Se tiver trabalho aí eu trabalho. Uma hora de trabalho equivale a um prato de comida. Duas horas, dois pratos. Faço qualquer coisa: lavo os pratos, varro o chão, sirvo as pessoas, limpo os banheiros, estaciono os carros… só não sei temperar as coisas”. Ele: “Mas eu tenho funcionários para fazer tudo, não preciso de seus serviços”. Eu: “Mas eu preciso comer. Coloque um prato de comida para mim. Você não vai me negar um prato de comida, né?”.
É constrangedor para ele negar comida, mas se ele o fizer, o faz violentamente, através de xingamentos, então eu vou no restaurante vizinho repetir o mesmo processo, até que me deem um prato de comida.
Transcrição feita e adaptada pelo Provocações Filosóficas do trecho do Flow PodCast com Eduardo Marinho.
Confira na íntegra:
Eduardo de Mendonça Marinho é um artista plástico, escritor, ativista social e filósofo brasileiro. Os seus trabalhos têm ênfase na contestação dos valores da sociedade, daí ser conhecido por filósofo ou “pensador das ruas”.