Eduardo Marinho participou do documentário Idioma Desconhecido onde fez provocações e questionamentos pertinentes a vida do homem comum. Abaixo você encontra as transcrições da participação.
“As pessoas acreditam que uma democracia é algo, em geral, muito desejado, enquanto eu estou cansado de falar que o termo democracia só tem validade, para mim, se for uma “cracia do demo”, porque se trata de uma sacanagem que inferniza a vida de todo o mundo. Trata-se de seres demoníacos que estão voando de jato, que não andam no chão com a gente.
Os ricos, as classes médias e os pobres estão todos vivendo um inferno de massacre, de pressão ou de medo. Massacre embaixo, pressão no meio e medo em cima. E as pessoas têm medo até de pensar. Quando alguém começa a enxergar alguma coisa além do que é condicionado, essa pessoa sente medo pela possível ameaça de ser discriminada.
Por que a ideia de teorias da conspiração foi fabricada? Para que as denúncias reais caiam numa vala comum.
O termo política pública devia ter aspas, porque de pública a política só tem o nome. A população é mantida fora das decisões; ela recebe as decisões prontas, que vêm com um monte de induções de psicologia do inconsciente para que ninguém perceba o verdadeiro caráter dessas decisões que são apresentadas, pois tais decisões geralmente “ferram” com o povo, mas elas são apresentadas como uma necessidade do próprio povo.
O conhecimento, ao invés de servir à humanidade, serve aos interesses de vários que não permitem que esse conhecimento atinja a maioria. É por isso que os donos do poder elegem as pessoas que escolherão o que fazer com as verbas, assim o político não pode investir em educação, pois, para prepararem as cabeças a fim de deixá-las vulneráveis e facilmente manipuláveis, se interfere no modelo educacional.
Antigamente o professor era respeitado; hoje uma moça chega a sua casa dizendo que namora um professor e o seu pai pergunta se ela está louca. O professor é um “merda” social; perdeu-se o respeito, e isso é uma condição fabricada.
Um professor de escola pública, se não trabalhar em três turnos, não ganha o suficiente para viver com dignidade. Então ele trabalha muito e, obviamente, cai a qualidade de seu ensino (a voz fica rouca, por exemplo). O que interessa, no geral, é o bloqueio do ensino.
É preciso criar caos, conflito e desejo de consumo compulsivo, fazendo este último fator ser o mais importante da vida em geral, enquanto o afeto é deixado para lá, sendo que a necessidade real das pessoas é o afeto, mas ninguém fala disso. Você guarda o seu afeto para poucos, para os mais próximos e para a sua família, mas não há afeto nem solidariedade gerais porque isso uniria a população.
Os ricos estão escondidos atrás das grades dos condomínios. Eles olham para as grades a fim de sentirem segurança, mas não percebem que são prisioneiros dessas grades, pois, no momento que saem dali, estão apavorados, então preferem não sair nunca, e se têm que sair é com medo, já que saindo dali estarão em território inimigo, e então estarão ostentando uma riqueza no meio de uma maioria que, além de ser pobre, miserável e sabotada, recebe a indução no inconsciente de que ter é a coisa mais importante do mundo.
Muitas dessas pessoas se deixam convencer e não ficam em suas casas conformadas: já que a sociedade não lhes dá condições de compra, elas irão tomar as coisas para si. Em meio a milhões de pessoas é de se esperar algumas milhares indo para o crime, e a publicidade, com sua eficiência, no meio de quem não pode consumir, utilizando a psicologia do inconsciente e convencendo as pessoas de que o consumismo é a realidade mais valiosa, está induzindo esses indivíduos ao crime, e aí eu vejo a publicidade como uma atividade criminosa.
Ou a pessoa se conforma em ser um “merda” ou vai para o crime, porque ela não tem condição de se desenvolver como ser humano, de ter uma profissão. Ela fora proibida disso. Se o indivíduo nasceu na periferia, ele está destinado a ser trabalhador braçal.”
Transcrição feita e adaptada pelo Provocações Filosóficas da participação de Eduardo Marinho no documentário Idioma Desconhecido, produzido por José Marques.
Trecho da participação de Eduardo Marinho no documentário Idioma Desconhecido:
Veja o documentário completo: