Edgar Morin diz que para que alguém possa ser feliz deve-se buscar viver poeticamente. Isto é, aumentar ao máximo no cotidiano tudo aquilo que faz florescer, encantar e engrandecer o nosso ser. Para ele, é isso que realmente importa e possibilita que possamos encontrar a felicidade nas lacunas de dor da vida. Entretanto, em mundo cada vez mais burocratizado, automatizado e organizacional, que nos engole com suas cobranças e determinações, como podemos encontrar essa poesia falada por Morin?
Obviamente, na vida normal existem obrigações, coisas que nos chateiam, que nos deixam mecânicos, encontros que nos entristecem, isso é natural, haja vista que a vida é composta de contrastes e, assim, se existe poesia e felicidade, também há incongruências e tristezas. Todavia, parece que o lado sombrio tem se sobreposto e deixado tudo escuro, fazendo com que, inclusive, deixemos de lembrar que existe algo a mais para se viver.
Somos a geração das conquistas materiais, das realizações impossíveis e, no entanto, estamos mergulhados em depressões, sufocados por ansiedades. Vivendo à base de anestésicos existenciais, desejando a morte a semana inteira e buscando desesperadamente a alegria no “happy hour”. Mas não encontramos, porque como falava Rubem Alves: “A felicidade só mora no agora”. E nós insistimos em querer encontrá-la no futuro ou em grandes realizações, correndo atrás de um protocolo, como se fôssemos um produto industrializado.
Insistimos, mas não encontramos e por isso estamos tão tristes. Não à toa, tudo que fala de sonhos, a aurora que já não se enxerga, consegue nos comover, como foi o caso do filme “La La Land”, demonstrando que existe algo de muito errado com a forma que temos levado as nossas vidas, já que não há sentido em viver sem acreditar naquilo que nos constitui de forma mais profunda.
Intempéries sempre vão existir, afinal, não existe caminho perfeito. Contudo, se somos realistas o bastante para compreendermos que não há um caminho para a felicidade, por que preferimos nos submeter a caminhos impostos a nos guiar por onde acreditamos que será melhor, não para os outros, nem para a sociedade, mas para nós?
Existe uma vastidão no mundo, que a cada dia tem mais e mais coisas a ser “exploradas”, mas na mesma medida há em nós um vazio tão grande, que essas coisas só conseguem cumprir a sua obsolescência programa, já que o humano é sedento pela essência da vida, por tudo que é vivo, que é luz em meio à escuridão, e não, por coisas mercantilizáveis.
Apesar de tudo isso, podem exclamar: “Pare de utopias”, ao passo que responderei: “O que é um homem sem o direito inalienável de sonhar?”. Talvez seja uma casa que não abre as janelas. Talvez seja o músico que não pode tocar. Talvez seja um homem que talvez viva ou talvez morra, porque já não importa. Talvez seja o homem que já não é humano. E, assim, a existência se guia por uma linha frágil e faminta, que ao deixar de sonhar, não passa de uma mera caricatura da vida, pois como disse Mário Quintana: “Uma vida não basta ser vivida. Ela precisa ser sonhada”.