
Luiz Felipe Pondé no trecho de uma palestra para EGDS em 2016, trouxe uma reflexão interessante sobre a preferencia dos jovens por cachorros ao invés de filhos. Confira abaixo a transcrição adaptada da fala de Pondé.
O crescimento populacional de idosos é uma realidade. Isso acontece porque o número de jovens vem diminuindo: cada vez se tem menos filhos, já que a taxa de fertilidade caiu — não por doença, mas por escolha. Muitas mulheres simplesmente não querem ter filhos. Em geral, quem ainda deseja ter filhos são mulheres religiosas e evangélicas, enquanto as seculares, descoladas, com carreira profissional, costumam optar por não ter ou ter apenas um. Como costumo brincar, hoje em dia é “um filho e um golden”.
E por quê? Porque os cachorros, de certo modo, oferecem mais: eles amam você incondicionalmente, nunca reclamam, e exigem menos investimento do que um filho. Você pode mandar o filho fazer intercâmbio na Europa, pagar tudo, e ainda assim ele encontrará algo para reclamar. O cachorro, não — até se você o trancar no banheiro, ele continuará amando você do mesmo jeito. Isso mostra uma mudança, quase um endurecimento dos vínculos afetivos. Parece engraçado, mas é sério.
No meu livro Filosofia para Corajosos, lançado em junho de 2016, escrevi um capítulo chamado “Nossos Coros de Demônios”, onde proponho questões difíceis. Uma delas gerou polêmica: “O que é melhor, um filho ou um cachorro?”. Quando o livro saiu, em entrevistas, duas jornalistas ficaram muito bravas comigo justamente por causa dessa pergunta. Imagino que elas mesmas tenham preferido os cachorros, por isso a reação.
A verdade é que hoje existem cada vez menos jovens no mundo. Quanto mais opções de vida uma pessoa tem, especialmente a mulher, mais frequente é a escolha de não ter filhos — ou de ter apenas um. Algumas até dizem, em tom de brincadeira, que preferem adotar, já que o filho adotado “não atrapalha o corpo”: você já “compra pronto” e ainda pode sentir que está ajudando o mundo. Essa tendência é ainda mais forte nas classes sociais mais altas, onde muitas mulheres não querem passar pelas mudanças físicas da gravidez.
No fim das contas, o ônus da reprodução sempre recaiu sobre a mulher. Do ponto de vista biológico, desde a pré-história, para o homem a reprodução é questão de “dois minutos”. Isso nunca mudou. Claro que ao longo do tempo a gente inventou o jantar, a conversa, o cigarro depois… mas, no essencial, continua sendo dois minutos. É por isso que a discussão sobre filhos gira em torno da mulher: porque é ela quem carrega o peso fisiológico e, em grande medida, também o psicológico da reprodução.
Transcrição feita e adaptada pelo Provocações Filosóficas do trecho da palestra de Luiz Felipe Pondé para EGDS em 2016 em Campinas.
Confira na íntegra:
Os jovens estão perdendo cada vez mais o interesse em ter filhos, pois dentre responsabilidades e gastos que um bebê ou criança terá, será que não é mais prático virar “pai” ou “mãe” de cachorro? Pois em comparação a um filho (humano) esses representam um compromisso a curto prazo.
Luiz Felipe Pondé, possui graduação em Filosofia Pura pela Universidade de São Paulo (1990), mestrado em História da Filosofia Contemporânea pela Universidade de São Paulo (1993), DEA em Filosofia Contemporânea – Universite de Paris VIII (1995), doutorado em Filosofia Moderna pela Universidade de São Paulo (1997) e pós-doutorado (2000) em Epistemologia pela University of Tel Aviv.
Atualmente é professor assistente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, professor titular da Fundação Armando Álvares Penteado.
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