Imagem por: Caroline Fortunato

Por sermos limitados ao presente, o futuro normalmente nos instiga – ou assusta – mais. Conhecemos tudo o que se passou, e então nos acomodamos com os ganhos e até com as dores passadas. Nos apegamos porque o futuro é incerto, aparentemente sem graça e como se nada novo ou incitante fosse acontecer novamente. Nos acomodamos na medida em que nos acovardamos frente ao desconhecido, ao que pode acontecer. Entretanto, é preciso ter em mente que há muito o que viver, muitas pessoas para conhecer, muitas surpresas por encontrar; muito o que crescer e se fortalecer. Prender-se aos acontecimentos do passado, não deixá-los morrer por receio de que a emoção se acabe é algo bastante pobre.

É preciso coragem para dar um pouco de espaço às nossas emoções e espontaneidade, à consciência de que não temos o controle de tudo. Embora em meu caso, por exemplo, a racionalidade irá sempre ser privilegiada. E, por meio dela, eu geralmente tenho consciência no que de fato devo me envolver ou não. Tenho clareza de algo que com o tempo se tornará tóxico a mim (e não necessariamente somará) e, portanto, eu tenho desde cedo que já me preparar para o seu fim, mesmo que naquele momento esteja sendo produtivo e divertido; esteja me acrescentando e me fazendo crescer. Nunca foi para mim, exceto no período em que nos tivemos. Mas agora todas as partes envolvidas precisam morrer para o que já se desfaleceu, pois não cabe mais em nossas vidas, pelo menos se quisermos prosseguir com nossa evolução. Não podemos estar presos: algo novo sempre quer nascer mais forte que o velho – este, pelo qual seremos sempre gratos por inúmeras coisas e que nos deixará, ora e outra, alguma saudade (mas que seja uma saudade saudável e não coberta pelo desespero).

Tentar, ainda, desvendar a psicologia alheia e suas razões para alguma decisão a fim de satisfazer-se (ou não) com a compreensão do que aconteceu, é uma mania nociva, neurótica e desnecessária. Às vezes nem sendo nós mesmos temos total discernimento sobre o porquê decidimos ou queremos alguma coisa! E aqui o perdão entra com força: guardar rancor pode ser infantil e muitas vezes extremo.

Temos tanto medo que alguém nos machuque que raramente vamos até ao fim de uma situação, pulando fora baseado em nossos achismos, antes que tal pessoa “seja escrota” ou algo do gênero conosco. Findamos, muitas vezes, um problema sem saber claramente qual era a sua verdadeira raiz. É falta de comunicação e falta de confiar no que sentimos.

Relacionamentos humanos são altamente sensíveis e podem se findar por motivos banais; por nossos próprios erros que não queriam ter sido cometidos, mas que simplesmente fugiram ao nosso controle. Ainda não sabemos lidar muito bem. A humanidade, muitas das vezes, é bastante imatura, especialmente em assuntos que são superestimados e em que nos cobramos perfeição. A mentira, por sua vez, ultrapassa o nível de infantilidade beirando a covardia bem como o mau-caratismo.

Relacionamentos humanos são tão superestimados que não entendemos que nosso valor e excepcionalidade independem do que representamos às outras pessoas. É essencial identificarmos o que nós verdadeiramente queremos e não o que a outra pessoa quer ou enxerga em nós. Seria interessante também distinguirmos um interesse real que os outros têm pela gente, como por exemplo por nossa mente e ideias. Isso muitas vezes passa despercebido, fazendo com que nos contentemos com um interesse mais instantâneo que todo o mundo geralmente tem: um interesse social e externo. Talvez as pessoas nem saibam o porquê de se aproximarem de outras, pois estamos todos perdidos em nós mesmos.

Os altos e baixos farão sempre parte. Temos de aprender a lidar com isso, começando por sentirmos o nosso valor sobretudo nos momentos em que tudo parece estar contra nós, e não apenas quando tudo está dando certo. É importante que você não esteja contra você nos piores momentos; nessas horas, a expressão de nossa personalidade e dignidade devem se realçar.