Confesso que, muitas vezes, me sinto na contramão do mundo. Não entendo essa necessidade absurda de encontrar alguém, de precisar do rótulo “relacionamento sério” para se autoafirmar e de buscar um casamento como condição para a felicidade. Para mim, quem não desenvolve primeiro o amor próprio, não é capaz de desenvolver o recíproco.
Todos os dias vejo pessoas promovendo o desapego e a autossuficiência como condição para aproximar o outro. Para elas, funciona assim: promovem atitudes contrárias ao amor acreditando que irá atraí-lo de forma definitiva. Tão absurdo quanto incoerente, as atitudes apenas afastam as pessoas envolvidas e promovem uma solidão sem tamanho.
Por coerência, bom senso e equilíbrio as pessoas deveriam parar de usar as relações como disfarce de solidão. Deveriam, também, entender que apreciar a própria companhia é sinônimo de maturidade e que, quando somos capazes de valorizar os momentos a sós, a ida ao cinema sem pretensão e as viagens com apenas uma bagagem, somos capazes de oferecer o melhor que somos a alguém de forma livre.
Não é uma questão de gostar de ser solitário e supervalorizar a solidão. É uma questão de vivenciar as etapas da vida e ser feliz em todas elas.
Precisamos entender que nos amar, ter prazer na própria companhia e desenvolver afeto próprio é tão importante quanto ofertar isso em uma relação.
É preciso muitos momentos a sós para se conhecer e muito autoconhecimento para avaliar os sentimentos alheios. A convivência, o afeto e a permanência também dizem respeito ao desenvolvimento do amor próprio e não apenas ao outro.
O escritor do momento, Zack Magiezi escreveu sobre o tema há pouco tempo: “Como alguém pode amar uma pessoa que não se ama? Que se esquece, que se distancia de si mesma para viver em função de alguém, quando você se anula por causa de alguém, você se mata lentamente e quantos mortos nós conhecemos”.
Precisamos (e queremos) nos relacionar diariamente. Fato! Mas isso não nos dá o direito de negligenciar a própria companhia. É preciso ter claro que as relações só darão certo quando entendermos que nada, nem ninguém, valem a nossa paz. Quando é amor, não há necessidade de insistir, de explicar, de pedir… quando é amor, acontece livremente e de forma recíproca. E isso não se limita a relacionamentos amorosos, mas a todo tipo de relação estabelecida socialmente.
O desenvolvimento do amor-próprio se dá pelas formas mais improváveis. Às vezes, você o descobre depois de quebrar a cara inúmeras vezes, outras depois de acordar para vida e ver que relacionamentos sadios são bem diferentes daquilo que você tem vivido.
Quando nos deparamos com os machucados mais doloridos, descobrimos em nós mesmos, o remédio e a cura, e iniciamos o flerte com o amor, o próprio.
Aprenda uma coisa: se é verdade que toda forma de amor é válida e todo o tipo de amor é lindo, é verdade também que, sem amor próprio, teoria nenhuma consegue ser aplicada.
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