Cortella em um vídeo postado em seu canal no YouTube lembra que nós devemos estar cientes que somos capazes de fazer aquilo que não devemos. Abaixo você pode ler a transcrição do vídeo.

“Há um pensamento muito extenso, do filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), sobre ética, integridade e paz, e esse pensamento extenso pode ser sintetizado numa ideia muito marcante: “Tudo o que não puder contar como fez, não faça!”, pois se não há razões para contar, essas são razões para não se fazer.

Kant não está falando contra a privacidade, o sigilo nem a intimidade, mas, sim, contra a vergonha. A ação que eu não puder contar como fiz, porque, se alguém souber que fiz, eu ficarei com vergonha de tê-la feito ou de que saibam, não deve ser iniciada.

Porém, é difícil fazer isso que Kant levanta, afinal, todos os dias somos tentados a arranhar, de certa forma, nossa integridade, seja na família, no casamento, na comunidade, no trabalho, na política etc. Nós não somos imunes à intenção, desde que não estejamos distraídos.

Uma das coisas mais bonitas do Ocidente são as obras atribuídas a Homero (Ilíada e Odisséia), que contam a guerra de Troia e a vitória dos gregos sobre os troianos. Em Ilíada é contado sobre o semideus grego Aquiles, que perece com uma flechada no calcanhar, seu único ponto vulnerável (todo o resto do seu corpo era blindado). Aquiles morre com essa flechada porque não acreditava que seu calcanhar fosse vulnerável. A melhor maneira de ser vulnerável é achar que se é invulnerável, a melhor maneira de ficar inseguro é achar que já se está seguro e a melhor maneira de ficar desprotegido é achar que já se está protegido. É necessário que saibamos que nenhum de nós é imune ao arranhar da ética e da integridade: somos capazes, sim, de fazer o que não devemos. Então, numa organização, empresa etc., é necessário que cuidemos da ética.

O Brasil teve um grande presidente, a partir de 1945, chamado Eurico Gaspar Dutra, eleito por voto direto, que dizia que a democracia é uma plantinha frágil que temos que regar todos os dias. Essa ideia pode ser estendida à noção de ética e integridade. A integridade é uma plantinha que temos que regar diariamente, pois, do contrário, ela perde vitalidade; como uma energia renovável, ela precisa ser renovada.”

Transcrição feita e adaptada pelo Provocações Filosóficas do vídeo: Tudo o que não puder contar como fez, não faça! – Mario Sergio Cortella

Mario Sergio Cortella, nascido em Londrina/PR em 05/03/1954, filósofo e escritor, com Mestrado e Doutorado em Educação, professor-titular da PUC-SP, na qual atuou por 35 anos.

É autor de diversos livros nas áreas de educação, filosofia, teologia e motivação e carreira.