O ano era 2014, o “Domingão do Faustão”, programa dominical da TV Globo, tinha como convidada uma ex-participante do reality show “Big Brother Brasil”, que falava sobre seus projetos e objetivos após dar adeus ao programa. Foi quando ela respondeu com uma daquelas “pérolas” que acabam “viralizando” depois: “E se nada der certo na vida, eu viro bailarina do Faustão!”, disse a moça apontando para o balé do programa.
O apresentador, visivelmente irritado, reagiu assertivamente e de forma imediata, ponderando que para ser bailarina, além de começar muito cedo, era necessário estudar muito. Ele também deu voz a uma das bailarinas do programa para que pudesse responder à gafe da convidada. Esse momento constrangedor da TV brasileira reflete o preconceito que ainda há sobre muitas profissões.
Em outro momento, já em 2017, outro caso lamentável em uma escola no Rio Grande do Sul. Promovido pela escola e alguns alunos, um evento que se chamou justamente “Se nada der certo”, causou indignação. Os alunos foram ao evento “fantasiados” de faxineiros, atendentes de “telemarketing”, garçons, garis, entre outras profissões, indicando que se “nada desse certo”, esse seria o destino deles. No fim das contas, nada deu certo, mas para o evento, que foi duramente criticado na mídia e causou polêmicas nas redes sociais.
Esses dois exemplos de como algumas profissões são vistas por algumas pessoas, mostram o quanto ainda precisamos evoluir como sociedade. É preciso valorizar o trabalho, seja ele braçal ou intelectual. Tudo que vemos ao nosso redor existe e funciona porque cada pessoa, de cada área, de cada profissão, serve como engrenagem de uma máquina maior. Devemos nos orgulharmos de fazermos nossa parte e respeitarmos todos aqueles que contribuem para que nossa vida siga em pleno funcionamento.
Sabemos o quanto são fundamentais algumas dessas profissões e tivemos uma pandemia mundial para entendermos o quanto cada serviço é “essencial”. E aqui já fica minha homenagem a todos os prestadores de serviços essenciais, que nunca pararam, que trabalharam com medo, com incertezas e, por vezes, com a máscara escondendo a lágrima. Também, obviamente, a todos aqueles que tiveram que parar não por escolha, mas porque foi preciso. Todos que foram prejudicados e tiveram perdas nessa pandemia merecem reconhecimento.
Não é fracasso ter uma profissão para a qual não existe vestibular. Nem todo conhecimento se aprende nas faculdades. Conhecimento adquirido é mérito e valor. Como diz a conhecida frase: “o trabalho dignifica o ser humano”. Dignos são todos aqueles que saem de suas casas em busca do seu sustento. Que lutam diariamente, que buscam na rotina dos seus trabalhos cada tijolo para a construção dos seus sonhos e realizações. Que voltam para casa todo dia com a roupa suja, mas com a alma digna e a consciência limpa.
Jamais considere inferior uma pessoa por ela limpar o chão em que você pisa. Não existe profissão superior ou inferior, toda pessoa tem seu valor, é heroína da sua própria história. Todo trabalho honesto e feito com dedicação merece aplausos e, principalmente, respeito. Cada um escreve a sua trajetória, com suas batalhas e conquistas, à custa do seu esforço, superando dificuldades e buscando seu lugar ao sol.
Toda profissão é nobre, e é nobre cada trabalhador desse mundo. Quando é realizado com amor, o trabalho deixa de ser uma obrigação para se tornar parte do ser humano. ”Escolha um trabalho que você ame e não terá que trabalhar um único dia em sua vida”. Que o trabalho nos complete e nos honre, que seja uma escada para nosso crescimento e aprendizado. Que todo trabalhador seja valorizado e respeitado! Tenha orgulho da sua mãe faxineira, do seu pai pedreiro.
Texto de: Francisco Rodrigo Melgareco Benine