Amiga, ouvi seu áudio sobre o seu novo namorado e preferi respondê-lo aqui, olhando em seus olhos. Perdoe-me se minhas palavras vão fazer o seu entusiasmo despencar, mas acredito que amigos de verdade nos dizem o que sentem, ainda que isso possa gerar, em nós, algum desconforto.
Amiga, o que acontece contigo? Desde as primeiras paqueras, nos tempos de colégio, vejo tudo se repetindo em sua vida. Você sempre teve uma espécie de ímã para homens que estão, de alguma forma, no fundo do poço. Eu me lembro de todos eles. Um chegou em sua vida todo endividado, apesar de ter um excelente cargo público. E você o acolheu com toda a sua generosidade. Foram muitos anos de namoro em que você deixou de viajar porque ele não tinha condições de ir contigo e você não tinha condições de bancar a viagem dele, embora tivesse vontade. Você bem que cogitava viajar com alguma amiga, mas ele fazia chantagem emocional e você cedia sempre. E lá se foram muitas férias em casa, anulando-se por conta dele.
Mas o pior de tudo foi o desfecho daquela história. Você conseguiu ajudá-lo a se livrar das dívidas, inclusive fazendo empréstimos em seu nome e, adivinha? Ele se deu conta, ao quitar a última fatura, de que você não era a mulher ideal para ele. Deu-lhe um pé no traseiro e arrumou outra rapidinho. E você ficou assistindo, de camarote, as postagens sobre as viagens dele nas redes sociais com outra à tiracolo. Puxa vida, amiga, você nunca conseguiu fazer uma viagem com aquele homem. Você ficou mergulhada numa depressão terrível, por um longo período. Lembro do quanto você sangrou emocionalmente, ficou só pele e osso. Mas como sempre foi guerreira, acabou se reerguendo.
Daí, veio aquele outro que chegou em sua vida todo despedaçado emocionalmente. Recém divorciado, endividado, depressivo e sem eira nem beira, o cara parecia uma espécie de morto-vivo. Mas, sabe-se lá porque cargas d’água, você entendeu que devia dar uma oportunidade ao coitadinho, afinal, segundo ele, toda aquela mazela em que ele estava mergulhado era por culpa da ex esposa, a quem ele chamava de bruxa. Você, muito comovida, otimista e generosa abriu as portas da sua casa, da sua vida e do seu coração para ele. Levou-o ao psiquiatra, psicoterapeutas, igrejas, centros espíritas e tudo o que estava ao seu alcance. Deu certo, o cara ficou bom das emoções, saiu daquele humor moribundo e endireitou a vida financeira, afinal, você arcava com tudo sozinha para que ele se organizasse. E, outra vez, o terrível desfecho: o cara veio com aquele papo de que não queria uma relação séria porque ficou muitos anos casado e te deu tchau. A consideração contigo foi tanta que ele teve a coragem de terminar a relação pelo whattsapp. Ele foi embora, mas não te deixou sozinha, como companhias ficaram a depressão e as dívidas. Ah, já ia me esquecendo, ele não queria uma relação séria contigo, mas com outra, sim. Está num amor roxo nas redes sociais.
E, agora, você me aparece com essa história de namorado novo? Mulher, você ainda nem se recuperou do baque do último tombo e já tá querendo outra sarna pra se coçar? E o histórico desse rapaz é praticamente a cópia do anterior. Acorda, amiga, pare de se mutilar emocionalmente. Por que você não dá um tempo para você mesma? Você precisa se encontrar. Precisa buscar a raiz desse interesse por homens que não tem nada a te oferecer e, para piorar, te deixam cada vez mais fragmentada. Por onde anda a sua autoestima, se é que ela existiu algum dia?
Que atração mórbida é essa por resgatar homens que estão no fundo do poço e que te viram as costas, tão logo conseguem andar com as próprias pernas? Tudo bem, eu sei que acontecem casos em que nos interessamos por alguém que, aparentemente, é sem futuro. Sei lá, acontece de surgir uma conexão tão forte ao ponto daquele que está bem optar por pagar o preço pelo “investimento”, e, pode, sim, ocorrerem finais felizes. As exceções existem, claro. Acontece que, contigo, isso virou uma regra. Você só se interessa por homens que já aparecem com uma faixa escrita com letras garrafais: “SOU UMA BARCA FURADA”!
Será que você não se sente merecedora de um homem que possa cuidar de você, ao invés de usá-la como muleta? Olha, vou te falar uma coisa: enquanto você não buscar entender o que existe por trás desse seu comportamento e encarar de frente, você vai continuar andando em círculos. Eles, os homens problemáticos, chegarão e sairão da sua vida como passageiros numa estação de metrô. Eu nunca te vi com um homem equilibrado, que te tratasse bem e que te valorizasse. Só te vejo aos trancos e barrancos, chorosa, ressentida e machucada. Amiga, faça algo enquanto é tempo. Pare de tapar o sol com a peneira. Pare de agir como “recicladora” de homens problemáticos. Você não é um banco, tampouco uma clínica psiquiátrica. Você é uma mulher incrível, cheia de amor para dar e que, óbvio, merece ser amada de volta.
Pronto, já disse o que pensava. Deixo bem claro aqui, amiga, que se quiser ir em busca de ajuda, conte comigo.