Leo Fraiman em uma participação no programa Todo Seu, chama a atenção para a necessidade dos pais fazerem os filhos felizes. Confira abaixo a transcrição da fala de Fraiman.

“Os pais atuais têm uma loucura, uma postura neuro-óptica e uma forma doentia de ver as coisas por acreditarem que precisam fazer o seu filho feliz a qualquer custo. Por exemplo, a professora da escola dá uma nota baixa a determinado aluno, e na sexta-feira daquela semana haverá um feriado, então, na quarta-feira, o pai liga para a escola solicitando que a referida professora “facilite” a vida de seu filho que tirara nota baixa. Outro exemplo é o aluno que tem que enfrentar uma fila no recreio para comprar o seu lanche, então o seu pai reclama dessa espera que o filho precisa enfrentar, advertindo que este está comendo mal. Tudo isso gera na criança a posição de não se frustrar.

Eu já ouvi, em meu consultório, de mãe pós-graduada e de pais de famílias de níveis socioculturais altos, o seguinte: “Eu gosto tanto de fazer o meu filho feliz!” O que é fazer o filho feliz? Ao não saberem a resposta, os pais erram enormemente porque criam um pequeno tirano, o qual eu chamo de “totem narcísico”, por exemplo, nas redes sociais dos pais estes não estão mais presentes e, sim, apenas os seus filhos.

Existem dois erros. O primeiro é o pai achar que fará o filho feliz, o que é impossível. O segundo erro é quando os pais não sabem o que é felicidade, então humilham a criança na medida em que não a deixam crescer, colocando-a em um papel de babaca e de fraca, porque o oposto da autonomia é a apatia. O pai que não estimula o filho a ter autonomia acaba o aleijando.

A neurociência, área que estuda o cérebro, mostra que o córtex orbitofrontal é a área que pensa em consequências, que cria relações de causa e efeito e que planeja ações; é o freio moral que diz: “Eu quero, mas não vou” ou “Eu não quero, mas vou”. É a sede da força de vontade e é desenvolvida pelo treino. Então, se uma criança não é treinada a esperar, a criar, a negociar, a ceder e a se frustrar ela se torna uma aleijada, como se andasse com uma perna amarrada. A criança fica chata, birrenta, gastona, neurótica, depressiva e provavelmente drogada, porque vai precisar de outra coisa para acalmá-la já que não desenvolvera a auto-nomia, ou seja, ela não manda de dentro para fora no mundo – ela precisa do outro.

Hoje, o tempo todo, a criança é superestimulada, pois está sempre com um tablet em mãos, no carro da família tem uma tela etc., então ela não se frustra nunca. Por quê? Porque os pais atuais, muitas vezes narcisicamente, afirmam que não querem ser maus pais ou que o filho fique de birra consigo. Isso é uma sacanagem e está errado, pois induz o filho a uma doença; é um crime, do ponto de vista psicológico, a indução de uma criança a ser uma aleijada emocional. Tais crianças ficam infernizadas, infernando aos outros; enlouquecem os professores e os pais dizem que não têm tempo para cuidar daquela criança, mas querem que a professora de matemática cuide de quarenta. Isso é uma sacanagem com a escola. Tudo o que dá errado na sociedade vira currículo, como se a escola fosse a única responsável pela educação dos indivíduos. Porém, quem deve educar são os pais, enquanto que a escola deve reforçar essa educação.”

Transcrição feita e adaptada pelo Provocações Filosóficas do trecho do programa Todo Seu com Leo Fraiman.

Confira na integra:

Os pais de hoje, na busca narcísica de tornar os filhos felizes, acabam aleijando o emocionalmente essas crianças, pois sem o contato com a frustração elas aprendem a sempre serem atendidas. Em nome de se ter felicidade acaba-se criando a desgraça da criança e de todos a sua volta.

Leo Fraiman é psicoterapeuta, supervisor clínico e diretor da clínica Leo Fraiman de Psicoterapia e Gestão de Carreiras, também é especialista em psicologia educacional e mestre em psicologia educacional e do desenvolvimento humano pela Universidade de São Paulo (USP).