Pablo Neruda diz em um dos seus versos que: “Você pode cortar todas as flores, mas não pode impedir que a primavera chegue”. O poeta está correto, há coisas que não podem ser evitadas por mais que você se prepare ou faça de tudo para que não aconteça. Isso ocorre pelo fato da vida não ser uma estrada retilínea, mas antes, uma estrada sinuosa, cheia de curvas perigosas e imprevisíveis. E por mais que alguém te diga exatamente como proceder, em determinado tempo e espaço do caminho, algumas coisas só são aprendidas quando vivenciamos a experiência, por mais dolorosa que esta seja.

Não sou adepto da ideia de que só se aprende com a dor. O amor, a meu ver, ainda é e será o maior dos professores. Entretanto, não há como negar que ela nos ensina muitas coisas. Aliás, como disse, parece que só conseguimos aprender certas coisas por meio da dor, do sofrimento, do fracasso, da derrota. Em outras palavras, só aprendemos algumas coisas quando quebramos a cara.

Não adianta, algumas coisas não entram na nossa cabeça até passarmos pessoalmente por determinadas experiências. Podemos ser alertados, inclusive e de maneira geral, por pessoas mais sábias e experientes; podemos ouvir histórias, relatos de situações verídicas, ensinamentos sobre a vida de modo amplo e em pontos bem específicos; mas, por mais abertos e compreensivos que sejamos, sempre haverá algo que passará do nosso olhar e ouvidos, de forma que ao nos depararmos com aquela situação outrora evidenciada, agiremos de modo errado e, então, inevitavelmente quebraremos a cara.

Podemos relacionar esses acontecimentos exclusivamente ao período da adolescência, mas estaríamos errados. Embora, de fato, seja nessa fase, em que o “foda-se” está ligado para tudo, que quebremos mais a cara e até por isso mesmo ela esteja relacionada ao amadurecimento; o “quebrar a cara” ocorre por toda a vida, já que ninguém a conhece em todos os seus aspectos a ponto de nunca errar.

Ainda que “quebrar a cara”, “se dar mal”, traga dores, sofrimentos, decepções, frustrações, etc., é preciso entender que isso é algo que faz parte da descoberta da vida. É necessário sair, se arriscar, fazer suas próprias escolhas, viver suas próprias experiências, seus próprios relacionamentos, mesmo que vez ou outra nos machuquemos por algum motivo. Se fechar em relação ao mundo só nos torna ainda mais estranhos a ele.

É claro que, da mesma maneira que é preciso “cair no mundo”, também é necessário ouvir, sobretudo, quem tem algo para contar e se preocupa com o nosso crescimento. Todavia, os nossos sentidos dependem da experiência real para que certas coisas sejam apreendidas e isso não é algo ruim, mesmo que no fim estejamos cheios de feridas e arranhões.

Somos recortes de tudo que vivemos, inclusive, as experiências e vivencias nem tão boas ou dolorosas. O importante é o que conseguimos aprender com a cara quebrada, pois como disse Sartre – “Viver é isso: ficar se equilibrando o tempo todo, entre escolhas e consequências” – e em cada um de nós, por mais medo que se sinta e histórias que se escute, sempre há um desejo de rua e de queimar o pé no asfalto, porque quebrar a cara também é descobrir o mundo.