Na palestra chamada “O amor na era da sobrecarga” para o Café Filosófico, Ivan Capelatto falou sobre sobre os tipos de ciúmes e suas nuances dentro das relações de casais. Leia abaixo a transcrição do trecho.

“O ciúme é o medo da perda. Existe um ciúme que pertence ao amor psicótico, onde se mantém o ser amado ausente, pois, ao amá-lo, a pessoa com ciúmes o vê como uma perda, então tal ciúmes se transforma em desejo.

E existe outro ciúme que é o medo, tratando-se do ciúme paranoico. Pensando na era da sobrecarga e na história que as pessoas têm, imagine uma pessoa que tenha sido lesada no cuidado: uma mãe, os professores ou alguém que crescera com a ideia de que não é suficientemente bom para poder receber o amor de alguém, então há aí um “ciúme” que é a metáfora fundamental do medo da perda; o ciúme é a metáfora do amor. Nesse caso, a pessoa ciumenta fica vigiando o outro porque não se sente suficiente para manter o amor do outro por si, embora o seu amor pelo outro seja enorme. Isso se trata do amor neurótico? Sim.

Na dinâmica de um casal neurótico, a namorada ou esposa está se arrumando e reclamando que o seu cabelo não está bom, que o seu brinco não combina com a sua calcinha etc. O marido neurótico e ciumento, por sua vez, começa a imaginar que sua parceira não está se achando o suficiente para outro alguém, pois para ele ela está ótima daquele jeito.

Em resumo, o ciúme psicótico é a ideia de uma pessoa de não querer ter outra porque acha que vai perdê-la, enquanto o ciúme neurótico é o medo de uma pessoa de perder a outra por se sentir insuficiente para que a outra a ame.

Há nuances que chamamos de ciúmes que não se tratam de ciúmes, por exemplo, o amor homossexual, não o de gays, mas o amor onde um tem que ser igual ao outro. Esse amor de namorados, onde um quer que o outro pense como si e vice-versa, começa a gerar um ciúme que na verdade não é ciúme e, sim, inveja (embora se pareça com ciúme).

Imaginemos que o namorado ache a sua namorada muito bonita, e é aí que começa a surgir a diferença. Como eles vivem um amor homossexual, ou seja, não conseguem trabalhar com o amor heterossexual, que é o amor da diferença, ele começa a ter inveja da beleza dela e trata isso como se fosse um ciúme, que na verdade é inveja.

Falar de ciúme é como falar de arco-íris: ele vai do ciúme neurótico até a relação competitiva entre os amantes, que aí já está no campo da inveja, no campo de uma doença complicada que é muito comum.”

Transcrição adaptada pelo Provocações Filosóficas do trecho da palestra: O amor na era da sobrecarga no CPFL Cultura.

Confira a palestra completa:

Ivan Capelatto é psicólogo clínico e psicoterapeuta de crianças, adolescentes e famílias. fundador do grupo de estudos e pesquisas em autismo e outras psicoses infantis (gepapi), e supervisor do grupo de estudos e pesquisas em psicopatologias da família na infância e adolescência (geic) de cuiabá e londrina.

Mestre em psicologia clínica pela puc-campinas, é professor convidado do the milton h. erickson foundation inc. (phoenix, arizona, usa) e professor do curso de pós-graduação da faculdade de medicina da puc – pr. Autor da obra “diálogos sobre a afetividade – o nosso lugar de cuidar”.