Você já se sentiu invisível? Sozinho? Como se você não existisse, por mais que fizesse força para existir? Pois é, a invisibilidade ou melhor, a solidão, é um problema que parece ser inevitável em algum momento da vida e, mais ainda, para qualquer indivíduo que se sinta deslocado do meio social.
Esse problema aparece no livro e filme “As Vantagens de Ser Invisível” de 2012, escrito e dirigido por Stephen Chbosky. A trama acompanha a vida de Charlie (Logan Lerman), um garoto tímido, inseguro e extremamente sensível, marcado por vários acontecimentos que o tornaram ainda mais preso dentro de si, entrando no ensino médio sem saber como se portar, mas desejando ter um alívio de todas as dores que carrega silenciosamente.
Sem conseguir se enquadrar, a situação de Charlie só começa a mudar quando conhece Patrick (Ezra Miller) e Sam (Emma Watson), dois formandos que acabam recebendo Charlie no seu grupo, sobretudo, a partir do momento em que percebem que ele é muito mais parecido com eles do que parece. Ou seja, Charlie é um desajustado, um invisível, e por possuir essa condição consegue perceber mais profundamente as pessoas, assim como, sofre as consequências de estar sempre à margem do que é considerado o padrão. Ao seu modo, todos do grupo sofrem as consequências por serem diferentes do convencional e compartilham da solidão que ferve em Charlie.
A partir disso, Charlie começa a melhorar, não tem mais crises, e sente-se vivo, forte, como se as coisas definitivamente fossem mudar. Sem mais dores, sem mais lágrimas, sem tanta angústia, sem uma solidão que o tornava tão perdido. Agora, havia pessoas que o compreendiam, que o aceitavam como ele era, que o admiravam, que o amavam. Não eram os sujeitos mais descolados ou populares, mas eram os mais sinceros, os que carregavam uma verdade que fazia Charlie se enternecer e esquecer que estamos sós no mundo, que nascemos sozinhos e partiremos da mesma forma.
Essa consciência da finitude talvez assustasse Charlie, ainda mais por ser um indivíduo tão sensível para com o mundo e as suas dores, não à toa, um sujeito apaixonado por literatura. Da mesma literatura vem duas frases sobre a solidão, a primeira de Hemingway, que diz: “Mesmo quando estava entre a multidão, estava sempre sozinho” e a segunda de Exupéry: “Você não se sente sozinho aqui no deserto? No meio da multidão também nos sentimos sozinhos”. Em ambas, a solidão não é um mal de quem está só, mas um mal de quem está rodeado por pessoas, mas não consegue em momento nenhum perceber-se ouvido, existindo, deixando de ser invisível. Era essa a solidão carregada por Charlie, Patrick e Sam.
A solidão pela inadequação e pela falta de compreensão para com os seus problemas, as suas dores. E, nesse ponto, a obra se torna tão próxima de nós, porque quantas vezes estamos rodeados de pessoas, mas nos sentimos sozinhos, como se não existisse qualquer abertura cognitiva para que pudéssemos expressar os nossos sentimentos, os nossos desejos, as nossas dores?
Não é preciso ser tímido ou passar por experiências tão fortes e impactantes como as de Charlie, para se sentir sozinho no meio da multidão, porque todos possuem os seus demônios e precisam de alguém que os ajude a exorcizá-los; embora, para aqueles que carregam uma sensibilidade maior dentro de si, isso seja ainda mais penoso. Mas, o fato é que todos precisamos de alguém que nos ajude a permanecer na superfície, afastando-nos dessa terrível dor de estar sozinho no mundo, sendo esmagado pela finitude.
Assim, “As Vantagens de Ser Invisível” é uma obra que não se comunica apenas ao público adolescente, porque ela fala do homem e sua relação com um mundo, que na maior parte do tempo é indiferente, que faz sofrer, mas que também pode ser bonito. Ele fala da solidão do homem, da dificuldade que possuímos em nos comunicar e de como isso nos torna afastados e finitos. E, sobretudo, da importância de ter alguém aberto o bastante para tocar nossa alma, bem no fundo, nos tornando grandes e vivos, porque quando isso acontece, desconhecemos a solidão, o tempo torna-se apenas um detalhe singelo e nós…ah! “Nós somos infinitos”.