A solidão é um fenômeno que atinge milhões de pessoas no mundo todo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada quatro pessoas se sente solitária. A solidão pode ter consequências negativas para a saúde física e mental, aumentando o risco de doenças cardiovasculares, depressão, ansiedade e suic-dio. Mas a solidão também pode ter um lado positivo, se for vivida de forma consciente e equilibrada. É o que defende o historiador e professor Leandro Karnal em seu livro “O dilema do porco-espinho: como encarar a solidão” (Editora Planeta).
Karnal parte da metáfora do porco-espinho, um animal que precisa se aproximar dos seus semelhantes para se aquecer no frio, mas que ao mesmo tempo se fere com os espinhos alheios. Assim, ele ilustra o dilema humano entre a necessidade de convivência e o medo da dor. Para Karnal, a solidão é uma condição inerente à existência humana, mas que pode ser administrada de forma positiva ou negativa.
A solidão positiva é aquela que nos permite um tempo de reflexão, de autoconhecimento, de criatividade, de contato com a natureza, com a arte, com a espiritualidade. É uma solidão escolhida, que nos enriquece e nos prepara para o encontro com o outro. Já a solidão negativa é aquela que nos isola, nos entristece, nos angustia, nos faz sentir vazios e sem sentido. É uma solidão imposta, que nos empobrece e nos afasta do outro.
Karnal analisa as causas e as consequências da solidão negativa na atualidade. Ele aponta que vivemos em uma sociedade individualista, consumista, competitiva e narcisista, que valoriza mais a aparência do que a essência, mais a quantidade do que a qualidade, mais o efêmero do que o duradouro. Nessa sociedade, as pessoas se sentem pressionadas a serem felizes o tempo todo, a terem sucesso em todas as áreas da vida, a mostrarem uma imagem perfeita nas redes sociais. Mas essa busca incessante pela felicidade gera frustração, ansiedade e depressão.
Karnal também critica as relações superficiais e descartáveis que se estabelecem na era digital. Ele afirma que as redes sociais são ferramentas úteis para ampliar o contato com pessoas de diferentes lugares e interesses, mas que não substituem o convívio presencial e profundo. Ele alerta para os perigos da dependência tecnológica, da falta de privacidade, da exposição excessiva e da manipulação de informações. Ele defende que é preciso usar as redes sociais com moderação e critério, sem deixar de cultivar as relações reais e significativas.
Karnal propõe algumas alternativas para enfrentar a solidão negativa e transformá-la em positiva. Ele sugere que as pessoas busquem um equilíbrio entre o tempo dedicado ao trabalho e ao lazer, entre o cuidado com o corpo e com a mente, entre o individual e o coletivo. Ele recomenda que as pessoas pratiquem atividades que lhes deem prazer e sentido, como ler, escrever, pintar, tocar um instrumento, viajar, aprender algo novo. Ele incentiva que as pessoas se envolvam com causas sociais, ambientais ou humanitárias, que lhes permitam contribuir para um mundo melhor.
Cada pessoa tem sua forma de lidar com ela e de encontrar seu lugar no mundo. O importante é não se deixar dominar pelo medo ou pela culpa, mas sim buscar o autoconhecimento e o autoamor. Karnal afirma que “ninguém pode ser maduro e equilibrado se não administrar sua solidão”. A solidão pode ser um mal ou um bem, dependendo de como a encaramos e de como a transformamos.