“Nada há de mais perigoso do que um amigo ignorante; mais vale um sábio inimigo”. Jean de La Fontaine

É muito bom ter alguém para nos consolar em momentos difíceis, dizer palavras bonitas e que vai ficar tudo bem. Nós geralmente vamos nos aproximar de pessoas assim, bem parecidas conosco, e que nos apoiem em tudo que quisermos.

Já as pessoas que questionam nossas atitudes, perguntam se o que fazemos vai dar certo ou não e dizem que deveríamos pensar melhor sobre algo nós abominamos, não as queremos por perto e até as intitulamos como invejosas e pessimistas – jamais queremos alguém assim em nosso meio de amizades.

Então, ao longo da vida, vamos nos cercando de pessoas parecidas, que pensam igual ou que, mesmo que não pensem, mostram sempre entusiasmo pelo que fazemos. O importante é não criticar e manifestar apoio às nossas ideias e vontades.

Tudo bem, isso é um comportamento comum a qualquer um, mas existe uma armadilha aí, algo que se tornou marcante, principalmente, com o surgimento da era digital.

Um poeta francês nascido no século XVII (17), chamado Jean de La Fontaine, já havia escrito: “Nada há de mais perigoso do que um amigo ignorante; mais vale um sábio inimigo”.

Isso mostra que o problema com bolhas sociais modernas ou amizades ruins de séculos atrás surge do mesmo princípio e é uma presença recorrente no convívio humano. E se desde lá as coisas pioraram tanto, significa que não aprendemos nada.

Mas o que La Fontaine quis dizer com essa frase? Um amigo ignorante vai lhe dizer o que você quer ouvir, mesmo que não seja o que você precisa ouvir, vai apoiá-lo nas suas atitudes, mesmo que elas estejam erradas, ou seja, um amigo ignorante não o faz pensar.

Dessa maneira, ele o ajuda a ficar preso em uma realidade abstrata, na qual você sempre tem razão e faz tudo certo. Torna-o intolerante e leva-o à ideia de que todos que pensam diferentemente de você são loucos.
E não são só amigos, são namorados, maridos, esposas, familiares etc. Qualquer um que lhe dê o que você quer sempre, seja apoio, consolo, e não o convida a nenhuma reflexão sobre suas atitudes, está o alienando.

Se você está em um ambiente onde todos são assim, como você pode saber o que é certo e errado? Como disse Fontaine, mais vale um sábio inimigo, porque ele vai incomodá-lo, o incômodo o faz pensar, e pensando você cresce.

Mas não precisa necessariamente ser um inimigo para fazê-lo refletir sobre a vida. Às vezes, nós dispensamos relações justamente porque estas pessoas são questionadoras.

Então, se seu amigo pede para você pensar duas vezes antes de fazer algo ou se seu namorado, marido ou pais questionam alguma ideia ou atitude sua, eles não estão necessariamente sendo chatos, eles estão cuidando de você.

Temos que achar o ponto de equilíbrio entre ficar no mundo abstrato criado por ignorantes ou no mar de insegurança de quem realmente coloca defeito em tudo – é justamente esse o objetivo. Devemos ponderar as opções, as atitudes e as vontades para que possamos nos tornar cada vez mais conscientes.

E isso só é possível com amigos, amores e familiares que nos digam o que é preciso ser dito, que apoiem nossas melhores ideias e atitudes e, principalmente, que não nos deixem sozinhos quando precisamos de ajuda.

Não se torne o tolo que acha que está fazendo a coisa certa só porque está rodeado de pessoas ignorantes e bajuladoras que vão dizer que tudo que você faz é bom e maravilhoso.

Estes sorrisos, abraços e incentivos puramente fundamentados em questões emocionais desequilibradas vão cobrar bem caro se um dia você realmente for obrigado a abrir os olhos para a realidade da vida.