O casamento, há muito tempo, foi considerado um alicerce da sociedade, uma construção idealizada como uma aliança emocional e social, onde duas pessoas se unem para construir uma vida compartilhada. No entanto, o que inicialmente se apresentava como uma promessa de estabilidade e felicidade tem se tornado, em muitos casos, um terreno de complexidade, especialmente quando analisado sob a ótica masculina. Não é uma questão de vitimização, mas de reflexão racional sobre os custos – emocionais, jurídicos e financeiros – envolvidos.

O Pensamento de Schopenhauer: O Casamento Como Instituição Social

Arthur Schopenhauer, um dos filósofos mais influentes do século XIX, tinha uma visão particularmente negativa sobre o casamento. Para ele, a união conjugal não era uma expressão de amor genuíno, mas uma convenção social que atendia, fundamentalmente, ao impulso biológico de perpetuação da espécie. Em sua obra “Sobre as Mulheres”, Schopenhauer argumenta que o casamento é, em última análise, um pacto de interesse mútuo, onde as pessoas se comprometem a sacrificar sua liberdade e prazer individual para cumprir as expectativas sociais e biológicas.

“O casamento é uma tentativa de unir dois seres que se tornam inimigos com o tempo. No início, o que atrai é a paixão, mas logo aquilo que um dia achou atraente no outro se torna motivo de repúdio.”

Essa visão de Schopenhauer ressoa até hoje, especialmente em um cenário no qual muitos homens se encontram pressionados por expectativas sociais e jurídicas, sem perceberem totalmente as implicações disso. O casamento, em muitos casos, não é uma construção harmônica, mas uma instituição que impõe normas que podem gerar frustração e infelicidade, principalmente quando se leva em conta o desequilíbrio entre as responsabilidades e benefícios que recaem sobre os cônjuges.

O Olhar Psicológico: As Pressões no Homem e a Busca por Autonomia

Quando analisamos o casamento sob uma perspectiva psicológica, o conceito de autonomia emocional ganha relevância. O psicólogo Jordan Peterson alerta para o fato de que as relações devem ser baseadas em uma responsabilidade mútua, onde ambos os parceiros contribuem para o crescimento pessoal e a estabilidade emocional. No entanto, ele também ressalta que os homens frequentemente enfrentam pressões para atender a expectativas externas, o que pode resultar em um desgaste psicológico quando esses papéis são sobrecarregados.

Peterson afirma que o casamento exige não apenas uma parceria emocional, mas também uma dedicação à responsabilidade. Ele, no entanto, adverte que “a responsabilidade é uma das fontes mais poderosas de sentido na vida, mas também pode ser a fonte de grande sofrimento se não for bem administrada”. Assim, o casamento se torna um desafio constante, no qual a relação precisa ser equilibrada para evitar que o sofrimento seja desproporcional para uma das partes, em especial para o homem, que muitas vezes não tem as mesmas ferramentas para lidar com as expectativas que recaem sobre ele.

A Realidade das Leis de Família e o Impacto na Vida do Homem

No contexto jurídico, a situação se torna ainda mais complexa. As leis brasileiras, especificamente a Lei Maria da Penha, foram criadas com o objetivo de combater a violência doméstica e proteger as mulheres. Embora seja uma medida importante, essas leis podem ter efeitos colaterais, principalmente em situações onde o homem é acusado injustamente de violência psicológica ou física. As medidas protetivas, por exemplo, podem ser solicitadas com base em alegações não verificadas, resultando no afastamento do homem da residência, o que gera não apenas uma perda de estabilidade emocional, mas também de bens adquiridos durante o casamento.

Em um sistema jurídico que favorece predominantemente a mulher em casos de separação, pensão alimentícia e guarda dos filhos, o homem muitas vezes se vê em uma posição onde seus direitos não são equiparados aos de sua parceira. O regime de comunhão parcial de bens, que é o mais comum no Brasil, garante que os bens adquiridos durante o casamento sejam divididos igualmente, o que pode ser considerado um fator de desvantagem para o homem, especialmente em uma relação onde ele tenha sido o principal provedor.

Estudos jurídicos demonstram que 52,2% dos divórcios não consensuais são iniciados pelas mulheres, o que mostra uma tendência crescente de protagonismo feminino nas decisões de separação. Isso, no entanto, não significa que as mulheres sejam as únicas que se beneficiam. O fato de o homem ser frequentemente forçado a pagar pensão alimentícia, mesmo quando a ex-mulher tem a capacidade financeira de se sustentar, pode gerar um desequilíbrio significativo na divisão de recursos.

O Impacto Financeiro e Emocional do Divórcio

Os custos financeiros do divórcio, incluindo pensão alimentícia e a divisão de bens, são apenas uma parte das consequências que o homem enfrenta. A pensão alimentícia, em particular, se tornou um encargo pesado para muitos homens, que muitas vezes se veem obrigados a manter um padrão de vida para a ex-esposa e filhos, mesmo que não haja uma avaliação justa de sua própria capacidade de pagamento. A questão da guarda dos filhos é outro ponto crítico. Embora a guarda compartilhada tenha se tornado mais comum, ainda há uma tendência de se conceder a guarda primária à mãe, deixando o pai em uma posição de menor contato diário com os filhos. Essa divisão desequilibrada pode levar a sentimentos de impotência e frustração, especialmente quando o homem não é reconhecido como um cuidador capaz de dividir as responsabilidades parentais de maneira igualitária.

Estudos sobre saúde mental revelam que homens divorciados tendem a apresentar taxas mais altas de depressão e problemas psicológicos em comparação com mulheres na mesma situação. Isso ocorre, em grande parte, pela dificuldade em lidar com a perda de autonomia emocional e da identidade que o casamento impõe. A solidão pós-divórcio é um dos maiores desafios enfrentados, pois, muitas vezes, os homens não têm um círculo de apoio emocional tão robusto quanto as mulheres.

Reflexão Final: Uma Decisão Fundamentada e Racional

O casamento, como conceito social e emocional, deve ser analisado de forma crítica e racional. O pensamento filosófico, psicológico e jurídico apontam para a complexidade e os desafios inerentes a essa instituição, especialmente para os homens. As pressões externas e internas, somadas às desigualdades legais e à falta de um reconhecimento adequado das necessidades emocionais dos homens, tornam o casamento um compromisso que exige muito mais do que apenas amor e dedicação. Para muitos, as desvantagens jurídicas e emocionais podem superar os benefícios de uma união, principalmente em um contexto onde as expectativas e responsabilidades são desproporcionais.

Mas, e se a verdadeira liberdade emocional estivesse em uma redefinição do compromisso? O casamento, ao longo dos séculos, moldou-se de acordo com as necessidades sociais e políticas de cada época. No entanto, em um mundo onde a busca por autossuficiência e a liberdade emocional se tornam cada vez mais centrais, talvez a verdadeira questão não seja mais “o que o casamento pode me dar”, mas “o que ele pode me tirar?”. O que seria de uma união onde as responsabilidades não são distribuídas, onde o peso das expectativas recaem sobre um único indivíduo?

O casamento não deve ser visto como uma imposição social ou uma escolha impulsiva, mas como uma decisão fundamentada, onde os riscos e as responsabilidades são claramente compreendidos. Em um cenário onde as expectativas são muitas vezes irreais e desiguais, será que o compromisso ainda faz sentido, ou devemos buscar novos caminhos para a felicidade e o equilíbrio emocional?