Ela foi colocando tudo na mala durante um longo tempo, mas sua partida foi às pressas. Chegando em seu destino foi parada a imigração e logo indagada.
– Sua mala é grande, senhora.
– Quem pode, pode não é mesmo, meu caro?
– Sei que sua estadia por aqui será longa, mas muitas coisas são supérfluas.
Sentindo certa dor de cabeça e contrariada, ela abriu sua mala. O homem retirou alguns vestidos e sapatos. A Mulher ressaltou as grifes famosas que o homem segurava O homem respondeu que naquele lugar elas não teriam utilidade. Então, ele entregou seus vestidos para uma auxiliar.
– Eu preciso estar bem-vestida, o que pensarão de mim?
– Vai depender de suas atitudes.
A mulher, desconfortável, fez um muxoxo e se calou. O homem então pegou dois celulares, um tablete e um laptop e também entregou a sua auxiliar. A mulher os acusou de roubo. O homem estão explicou que não havia sinal de internet nem de telefone ali. E que eletrônicos não eram permitidos.
– E como vou me comunicar com os outros?
– Vai depender do tipo de pessoa que você é.
O homem continuou sua revista e encontrou duas caixas cheias de maquiagem e alguns cremes. Da mesma forma, alcançou à auxiliar para que ela se desfizesse do material.
– Ah não! A minha maquiagem! Tem uma fortuna só de cremes! Vou ficar uma velha.
– Vai depender da sua alma.
Então, ele tirou da mala uma pasta cheia de papéis. Ela explicou que eram os contratos dos meus imóveis. Citou mansões, uma fazenda e carros importados. O homem explicou que, naquele lugar, seus contratos não seriam válidos. E jogou os papéis no lixo. A mulher ficou desesperada.
– Vocês estão acabando comigo. Onde vou morar?
– Vai depender de como tratou seus familiares.
A mulher já estava muito nervosa, mas temia por uma represália, então segurou o choro. E o homem pegou 3 porta-joias na mala da mulher, que começou a tremer.
– O senhor tem milhões em pedras preciosas nas suas mãos, por favor.
– Senhora, neste lugar, preciosidade tem outro significado.
A mulher já não reagia mais. Estava em choque e inerte olhando para o chão. Ele, então, apanhou um pacote cheio de dinheiro. A mulher arregalou os olhos.
– Senhora, nossa moeda é outra. Seu dinheiro nada vale, agora.
– E como vou me virar?
– Vai depender da sua riqueza de espírito.
O homem também jogou o dinheiro na lata do lixo. A mulher se contorceu, não conseguia segurar as lágrimas de ódio e a cabeça doía muito. Ele, então, notou a mala vazia e disse à mulher que lhe faltavam algumas coisas básicas para sobrevivência nesse novo local.
– Diabos! O quê?
– Amor ao próximo e arrependimento, por exemplo.
A mulher franziu a sobrancelha chocada.
– Isso deve ser uma brincadeira.
– De forma alguma.
– Olha, meu senhor. Fiz de tudo para conseguir construir meu patrimônio. Aturei pessoas insuportáveis, abdiquei de minha família e desperdicei quase toda a minha vida. Agora o senhor me diz que de nada valeu.
– Aqui, minha senhora, os valores que importam são os da moral.
– Ora, me poupe dessa conversa mole.
– Claro. Seu passaporte, por favor.
– Um momento. Minha cabeça dói. Parece que fui atropelada.
E a mulher entregou seu documento arrasada. O homem analisou e decepcionado mostrou para a auxiliar que olhou para a mulher com dó.
– Que foi, agora. Não poderei entrar?
– Pois, então, Senhora, vejo carimbado aqui ganância, maldade, orgulho e preconceito.
– Mas que loucura é essa?!!
– A senhora tem o livre arbítrio para escolher viver ou apenas acumular.
E a mulher arrancou o passaporte da mão do homem para conferir se era verdade.
– Mas que porcaria é essa? Eu viajei o mundo todo. Onde estão os carimbos?
– A sua viagem mais importante é essa, agora, senhora.
A mulher indignada, jogou seu passaporte longe.
– Duvido! Quer saber? Devolve as minhas coisas. Meus vestidos, minha beleza, minhas propriedades, minhas joias e meu dinheiro. Porque se isso não tem valor aqui eu é que não quero entrar. Certamente, existe outro lugar muito melhor do que esse.
– Aqui é um paraíso, senhora, mas como disse, o livre arbítrio é seu.
– Chega, eu quero voltar! Não quero nem pisar em um lugarzinho chamado… chamado… Espera. Que lugar é esse mesmo?
Então, o homem apontou para uma placa logo adiante no caminho, que dizia:
“Bem-vindo ao Céu”
Foi, então, que a mulher caiu aos prantos. Ela pôde entender que mais do que cuidar do corpo é preciso ter uma alma bela, mais importante do que ter muito dinheiro, é não ser pobre de espírito, porque afinal, quando partimos dessa vida, o que vai com a gente não é o que carregamos no bolso, mas sim, no coração…