Eduardo Galeano diz em um dos seus versos, que o mundo é formado por um mar de foguinhos, em que alguns são bobos e, portanto, não queimam nem iluminam nada; enquanto outros são loucos e incendeiam a vida com tanta vontade, que é impossível olhar para eles sem se espantar e pegar fogo.
A vida constantemente nos faz fogos bobos, pequenos, que não sentem o vento do mundo passar. Não é para menos, é preciso se dar um desconto. Há momentos em que tudo parece que vai desabar e nossa potência de ser diminui tanto, que não passamos, nesses momentos, de meras brasas procurando a todo custo manter a menor chama que seja acesa.
Em uma realidade como a nossa, em que há tanto com o que se preocupar, em que a cada dia surge uma nova coisa que “precisamos” fazer, “precisamos” ter, o tempo nos esmaga e urge sobre nós um peso tão grande das responsabilidades cotidianas, que a existência parece insustentável e nós esquecemos de ser. De ser gente, ser humano, ser nós mesmos. Ser o tempo, o mundo, a natureza e fazer sê-los parte inseparável do nosso ser.
No entanto, por mais que as condições sejam adversas e que, na maior parte do tempo, o mar pareça não estar para peixe, é preciso sentir o vento, convidá-lo para dançar, comer algodão doce de nuvem, nadar nas janelas do céu, mergulhar nos avessos, desamassar as almas. É preciso ser fogo grande, chispado, porque em nós habita o impossível e os nossos olhos têm fome de mundo.
Mesmo que não seja fácil, porque as propagandas dizem o contrário e prometem a felicidade eterna de jardins vigiados – como disse Manuel Bandeira – “Liberdade caça jeito”; embora seja necessário aprender a ser, a conhecer o mundo e se conhecer nele, na imensidão de foguinhos.
Pois só assim, a gente entende que é preciso queimar, para então, ser fogo, ter um deus dançando dentro de si e incendiar o universo com a alegria de almas que compreendem que somos instantes, mas que – quando nos tornamos tão luminosos quanto as estrelas do céu – nos tornamos infinitos.