No geral, as pessoas persistentes são admiradas em seu contexto familiar e social, podendo ser alvos de inspiração e, até mesmo, de inveja. Elas são obstinadas e não se intimidam diante dos obstáculos que surgem ao perseguirem  um determinado objetivo, elas entendem que, para algumas conquistas, é apenas uma questão de tempo e empenho. Até aí, tudo certo. O problema é quando as pessoas entendem que a persistência possui a mesma eficácia para as conquistas relacionadas ao amor.

O amor nasce espontaneamente, ele é inegociável, tampouco depende da persistência de alguém para vir à tona. Nesse território, o máximo que alguém pode fazer é demonstrar o seu interesse  à pessoa que deseja conquistar e considerar um espaço de tempo mínimo para que a investida surta algum efeito. Porém, uma vez que isso já ocorreu e não houve o retorno esperado, o melhor a fazer é retirar o time de campo.

Acontece, sim, de alguém vencer  o outro “pelo cansaço”, sabe-se que existem relacionamentos que são iniciados e arrastados porque, de tanto um implorar, o outro acabou cedendo, ainda que sem o mínimo de empolgação, provavelmente, por receio de não ter outras possibilidades. Isso é possível perceber naqueles casais que um dos parceiros faz de tudo e se desdobra pela relação, enquanto o outro comporta-se como se estivesse naquele relacionamento fazendo um favor.

São  casamentos compostos por um que sempre “pisa em ovos” e  comporta-se como um capacho e outro que manda e desmanda, agindo sempre como se fosse a última “bolacha do pacote”. Uniões assim mais parecem uma relação profissional com uma hierarquia bem definida e rígida, como se fossem um general e um soldado.

Fica implícito  um quê de revanchismo nessas relações que não são movidas pela reciprocidade, parece conter, nas entrelinhas,  a seguinte mensagem: “estou contigo mesmo sem nunca ter sido apaixonado(a), em contrapartida, você vai ter que fazer todos os meus caprichos e se conformar com as migalhas que eu te oferecer”. Eis a pergunta: faz sentido um relacionamento assim?

Esse formato de relacionamento é comparável a um rolo compressor passando sobre  a autoestima dos envolvidos, especialmente sobre a dignidade daquele que se dispôs a implorar pelo amor do outro, acreditando  que, de tanto insistir, seria recompensado.

Se uma pessoa entende que precisa insistir para ter a companhia de outra, já existe aí um indicador de uma autoestima patológica. E, se o outro cede apenas porque houve insistência, estará formada uma parceria com todos os requisitos para um relacionamento disfuncional.

É necessário entender que relacionamento bacana é quando ambos estão interessados, quando a química é flamejante, quando a admiração é recíproca e o respeito é companheiro inseparável.  O que foge disso será encaixado naquele rol de parcerias formadas por duas pessoas murchas, desidratadas afetivamente, e que acreditam possuir uma companhia, quando, na realidade, estão solitárias. Em alguns casos, tão sozinhas ao ponto de terem perdido a própria identidade.