Somos almas perdidas, creio eu. Essa é a resposta que chego sempre que penso sobre o porquê de sermos tão distantes. Estamos próximos fisicamente, muito próximos. Há tanta gente na rua, aos montes. Estamos conectados 24 horas por dia, são inúmeras redes das quais fazemos parte. Mas, ainda assim, somos solitários, uns e outros, como diz um amigo meu. E, talvez, o que nos deixe nessa condição é o fato de sermos almas perdidas, tentando se encontrar e ao mesmo tempo encontrar alguém que nos faça sentir que somos parte de algo maior e mais belo do que essa imensa solidão.

É tão difícil encontrar alguém que seja capaz de produzir esse tipo de sentimento em nós, que acredito verdadeiramente que há algo de divino no pequeno espaço existente entre duas almas que conseguem romper essa barreira que nos separa e, então, se comunicam. Não à toa, o velho safado diz que: “Só de vez em quando é que você encontra alguém com uma presença e eletricidade que combina com a tua no ato”. E, diante de um mundo regido pelo egoísmo, torna-se ainda mais árduo encontrar alguém que seja capaz de fazer a nossa alma despertar.

Alguém que seja capaz de nos mostrar que não somos os únicos a padecer, que consiga humanizar as agruras da vida, já que às vezes parece que fomos escolhidos pelo universo apenas para sofrer. E todo mundo se acostumou tanta a não sofrer, a não deixar que as lágrimas transpareçam, que você se sente envergonhado e fraco por sentir a incômoda dor de existir. Entretanto, quando existe outro ser que olha para você e mostra que também possui feridas, que também chora, que é humano, demasiado humano para não sangrar, você percebe que não há por que fugir ou se esconder, como se fosse um pecado mortal derramar uma lágrima.

Da mesma maneira, a gente percebe que nem sempre continuar correndo é a melhor solução. Eu sei que a vida não para só porque nós estamos com problemas. Todavia, não adianta viver empurrando a bagunça com a barriga. Às vezes, é necessário parar, respirar, pôr a casa em ordem, e só depois continuar. É preciso desacelerar um pouquinho e nos voltar para o caos que urge dentro de nós, porque como diz o poeta – “O caos é uma ordem por decifrar” – e não um monstro que não deve ser enfrentado.

Reconheço que esse encontro é complicado, porque é tudo tão confuso e silencioso ao mesmo tempo, do lado de dentro, do lado de fora. É como se ao nos olharmos pelo espelho, não enxergássemos nada. Apenas um imenso vazio que só faz aumentar. Uma enorme escuridão que emudece todos os sentidos.

E no meio desse turbilhão nebuloso, quando todas as luzes se apagam, de repente aparece alguém, uma outra alma perdida, mas que ao estabelecer uma conexão com a nossa, faz com que frestas de luz sem abram no meio da escuridão e, como se voltássemos a enxergar, começássemos a observar o que nos cerca, todas as belezas que os nossos sentidos haviam se desacostumados a absorver e, então, mais do que toda miséria, pensamos na beleza que ainda permanece.

Pensamos, como disse o poetinha, que embora haja tanto desencontro, a arte da vida, a sua maior beleza, o seu traço divino, está nos encontros. No encontro com o outro, que ao mesmo tempo produz o doloroso, mas esplêndido, ato de encontrar-se. O encontro com a humanidade perdida, com o que há de gente em nós e o que há de nós na gente. Algo que recupera o reflexo no espelho, que traz serenidade ao desespero e oxigênio ao respirar.