Famoso e aclamado pela crítica literária, Pessoa é considerado o maior poeta da língua portuguesa. Viveu mais em seus versos do que a própria vida. Solitário, tímido e inseguro, o poeta criou seus próprios personagens (heteronômios) e, através deles, expôs sua visão de mundo como um grito de liberdade a seus pensamentos. “Drama em gente” era assim que Pessoa denominava seus heteronômios.
Pessoa escrevia bem, mas isso não bastava. Queria mais e assim fez. Revolucionou a Literatura Portuguesa criando seus heteronômios e atribuindo, a cada um deles, personalidade e biografia próprias. Os três, afirmados pelo próprio autor, são independentes e diferentes do mesmo. Estão ligados apenas a alguns temas do próprio Pessoa: a realidade, a unidade ou a pluralidade do eu, a sinceridade, a noção de realidade e a impossibilidade diante da morte. São pensamentos, conselhos e atitudes que trazem ao leitor uma visão ora irônica, ora sentimental da vida. São eles: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.
Segundo o próprio Pessoa, Alberto Caeiro (1885-1915) é o Mestre, ingênuo em relação aos outros (Álvaro de Campos e Ricardo Reis). Nasceu e morreu em Lisboa. Foi um poeta ligado à natureza, que despreza qualquer tipo de pensamento filosófico, afirmando que pensar obstrui a visão (“pensar é estar doente dos olhos”). Proclama-se assim um anti-metafísico e como um simples “guardador de rebanhos”. É um poeta de completa simplicidade e uma visão subjetiva.
Ricardo Reis, por sua vez, utiliza estilo refinado na forma poética, mediado pela frieza e pelo controle emocional. Oferece reflexão sobre as coisas, define a vida como passageira embora fosse averso à religião. Defendia que a natureza é a pluralidade das coisas. Predominando a razão sobre a sensibilidade e, diante da morte, o homem: “Abdica e sê/ Rei de ti mesmo.” Nasceu no Porto, estudou num colégio de jesuítas, formou-se em medicina e, escolheu viver no Brasil. Na sua biografia não consta a sua morte, no entanto José Saramago faz uma intervenção sobre o assunto em seu livro O Ano da Morte de Ricardo Reis, situando a morte de Reis em 1936.
Por fim, temos Álvaro de Campos, que era o oposto de Ricardo Reis. Culpava o mundo por suas decepções e, embora tivesse vivido intensamente seus momentos, deixou a depressão vencer e a solidão nortear seus pensamentos. Para ele, “nada valeu a pena, tudo foi em vão”. Não via beleza em nada e tinha um único esforço: conhecer a si próprio.¨Nada me prende a nada/ Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo/ Anseio com uma angústia de fome de carne / O que não sei que seja/ Definidamente pelo indefinido/ Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto (LISBON REVISITED (1926).
Talvez tenha sido uma tentativa de fuga da realidade ou apenas uma forma de gritar seus ideias e suas crenças ao mundo. A questão é, através dos heteronômios, Fernando Pessoa encontrou na Literatura um escape de vida, já que a sua não era como sonhara. Com uma personalidade solitária e com conflitos pessoais não solucionados: frustração amorosa, profissional e endividado, possuía, como poucos o dom da escrita e nela encontrou uma forma de viver seus sonhos:“ (…)Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens” (O Eu Profundo).
Fernando Pessoa, iniciou e encerrou sua vida escrevendo. Vivia para a Literatura e defendia a filosofia de que o significado das palavras está em quem as lê e não em quem as escreve. Sua última frase, já no leito de morte, foi escrita em inglês: “I know not what tomorrow will bring” ( “Eu não sei o que o amanhã trará”).
E, sobre isso, Pessoa, nem nós…
Imagem: Google