Das escolhas
“Uma vez um aluno me pediu uma entrevista e nessa entrevista que foi na minha casa, ele me perguntou: ‘como foi que o senhor planejou a sua vida, como o senhor se preparou para chegar onde chegou?’ – Eu percebi logo que ele me admirava e queria seguir o mapa do meu caminho e então eu disse a ele: ‘eu cheguei onde cheguei porque tudo que planejei deu errado e isso é a pura verdade. Então eu sou escritor por acidente. Já fui outras coisas: professor de filosofia, fui teólogo, já fui pastor… Agora eu sou um velho’”.
Da felicidade
“Eu estava conversando com uma amiga e ela me contou o seguinte: ‘Rubem, eu agora mesmo faria um trato com Deus. Eu Lhe daria um ano de minha vida se Ele me desse uma das noites em minha casa. Porque de noite lá em casa, em frente ao borralho do fogão à lenha, estava o meu pai, a minha mãe… E tinha pipoca. A mãe dizia, ‘eu vou lá fora, buscar umas folhas de laranja para fazer um chá pra nós’. E toda a noite, meu pai falava pra ela, ‘mulher, você vai ficar estuporada’. Toda noite o meu pai falava e ela nunca ficou estuporada. Isso pra mim é parte do céu. Eu acho que que cada um tem o seu céu diferente. O que a gente quer no céu é recuperar a felicidade efêmera que a gente teve em algum momento. Portanto, cada pessoa tem uma felicidade diferente’”.
Do sofrimento
“Nem toda ostra produz pérola. Só a ostra que sofre produz pérola. Porque a ostra para produzir a pérola tem de ter um grão de areia. Tem de ter uma coisa que a irrite. E assim, ela vai produzir a pérola para deixar de sofrer. Ela vai trabalhando aquele ponto agudo e cortante até que ele seja envolvido por uma coisa lisinha, que é a pérola. Em muitas de minhas histórias, eu fui uma ostra que produziu a pérola porque eu tinha um grão de areia que me cortava. Eu me lembro de um dia, seis hora da manhã, eu estava dormindo ainda e minha filha Raquel de três anos de idade me acordou e eu perguntei para ela o que foi. Ela me disse: ‘papai quando você morrer, você vai sentir saudades?’. Ah, como doeu… Doeu demais. Que pergunta. Que grão de areia terrível, pontudo: ‘papai quando você morrer, você vai sentir saudades?’. Eu não sabia o que dizer para ela. Eu nunca imaginei que uma criança de três anos fosse dizer uma coisa assim. Eu fiquei mudo. E ela disse: ‘não chore porque eu vou te abraçar’”.