Quando somos crianças, vemos as pessoas como capazes de tudo, quase como heróis. Acreditamos em tudo o que dizem, sem questionar. A verdade está com elas, e mesmo que tenhamos curiosidade sobre coisas simples, acreditamos em suas respostas sem hesitar. Ao longo da vida, temos a oportunidade de comparar o que vemos e ouvimos.

À medida que crescemos, especialmente na adolescência, começamos a perceber as diferenças entre o que vemos e o que nos é dito pelos adultos. Nesse momento, não é uma questão de perder a confiança em si, mas de começar a desenvolver nossa individualidade e capacidade de discernimento. Com o tempo, a complexidade desse processo se aprofunda, pois quanto mais experiência e informação adquirimos, mais nossa personalidade se forma.

Quando nos tornamos adultos, é possível entender que aqueles adultos que admirávamos na infância são apenas pessoas como nós, com limitações, erros, alegrias e tristezas. Não há uma linha clara de transição do adolescente para o jovem adulto; essa mudança geralmente é marcada pela responsabilidade. A formação do adulto depende de muitos fatores: físicos, psicológicos e ambientais, que moldam a identidade e as capacidades de cada um.

É difícil envelhecer com sabedoria, especialmente quando observamos os adultos que eram nossas referências na infância, mães, pais, tios, familiares que considerávamos infalíveis. Quando crescemos, vemos que eles não sabem tudo, que cometem erros, mentem e, muitas vezes, tentam fazer o melhor com o que têm. Nem sempre é por maldade; às vezes, é por limitações ou simplesmente porque agiram da melhor forma que conseguiam.

Quando crianças, somos ensinados a respeitar os mais velhos, a acreditar que a experiência de vida traz sabedoria. Mas, ao envelhecer, percebemos que a sabedoria não vem automaticamente com a idade. Envelhecer é um processo tão gradual quanto o próprio crescimento, e as pessoas que se tornam idosas nem sempre são sábias. Muitos mantêm os mesmos comportamentos e repetem os mesmos erros.

Encontrar alguém idoso e sábio é raro, mas quando isso acontece, é perceptível. Eles falam de forma ponderada, orientam sem impor, e, ao mesmo tempo, reconhecem e assumem as consequências de seus atos. Essa sabedoria vem de um esforço consciente de refletir sobre a vida, de aprender com os erros e entender a própria natureza.

No entanto, a maioria das pessoas envelhece sem alcançar essa sabedoria. Elas podem viver muitos anos, mas continuam sendo as mesmas pessoas de antes, com medos, inseguranças e comportamentos repetitivos. A sabedoria exige controle, autocompreensão e, principalmente, discernimento sobre as informações adquiridas ao longo da vida.

A sabedoria não é apenas sobre acumular conhecimento, mas sobre saber organizá-lo, refletir sobre ele e usá-lo de forma útil. A vida de um ser humano é uma coleção de informações, experiências e percepções, mas é raro conseguir transformar isso em sabedoria. A maioria cede aos seus instintos e medos primitivos, sem refletir adequadamente sobre o que viveu.

Envelhecer é um presente. Mas é triste observar tantos idosos envelhecendo sem se tornar sábios. Tanta informação, tanto conhecimento, tantas experiências, tantas histórias, tantas marcas, tantas dores que poderiam se transformar em uma plenitude de conhecimento e de sabedoria, de ensinamentos, e de uma base que impulsiona os outros a viverem, a seguirem em frente. Mas tudo isso foi pego e colocado para dentro de si mesmo, e não se levou a nada.

Por isso, para quem ainda tem a oportunidade poder envelhecer, vai o meu primeiro conselho. O primeiro conselho que eu daria na minha busca pessoal por sabedoria é justamente esse: tente envelhecer sábio. Não existe objetivo nessa vida mundana se não envelhecer sábio. Talvez essa seja a própria definição de uma vida desprezada: viver tudo o que viveu e não ter aprendido nada.