Leo Fraiman na participação do programa Todo Seu da Gazeta, fala sobre a indisposição que os pais e mães de hoje tem em cuidar e dedicar tempo aos filhos. Abaixo você pode ler a transcrição da fala de Fraiman.

Antigamente, as famílias eram mais numerosas, entre outras coisas, porque o trabalho dependia da força física. Além disso, os filhos cumpriam uma sensação de comunidade, pois as famílias se uniam assim, por comunidade. Hoje essa comunidade está terceirizada pela internet, pelas redes sociais, e todo mundo exerce muitos papéis.

Atualmente, os pais estão muito indispostos a usar do seu tempo, a dedicar seu tempo para cuidar dos filhos. Há escolas, por exemplo, que terceirizam seus profissionais, e a professora vira babá, a mãe recebe a comida feita em casa… existe uma terceirização da vida privada, porque pais e mães hoje querem ser felizes, querem se realizar, fazer cursos e, no tempo que lhes sobrar, dão um tablet para o filho. Eles veem como uma perda de tempo ficar com a criança, e depois o filho vem no consultório com queixa de déficit de atenção ou de depressão, sendo que, no fundo, é carência, é falta de modelo.

Ter filho custa! Custa tempo, custa energia, custa relacionamentos e papéis dos quais os pais têm que abrir mão. É preferível um pai e uma mãe que coloquem na balança, que possuam uma visão realista e falem: “Quanto tempo do meu dia, da minha energia e do meu amor eu estou disposto a dar para esse ser?”. É preferível pessoas que digam: “Eu prefiro ter um animal de estimação a um ser humano” ou “Prefiro ter um filho só”, porque é justo, é honesto.

Hoje, ainda há a vantagem de que ninguém “tem que…” nada. Hoje pode-se escolher, e isso é uma maravilha. O ruim é a pessoa que tem, e não quer ter. Ou algo que é terrível e criminoso: pessoas que largam o filho para o avô ou a avó cuidar. O custo emocional do abandono de pais vivos é devastador. Não tem o que faça uma criança viver de forma saudável sabendo que tem um pai e uma mãe vivos que não estão nem aí — tanto é que, nos presidiários, a pior punição é a solitária, pois não há dor maior para uma pessoa do que o abandono.

É louvável aquela pessoa que diz: “Não quero ter filhos”, “Eu quero adotar”, “Eu quero ter só um”, “Eu quero esperar”, porque, quando ela tiver, vai ter com amor, vai ter com cuidado. A era, hoje, é do “rapidinho”: lê-se algo na rede social rapidamente, come-se rapidamente, fala-se no telefone rapidamente etc. E filho não é algo rápido, filho dá trabalho.

Transcrição feita e adaptada pelo Provocações Filosóficas do trecho do programa: Como brigar corretamente – Todo Seu (16/07/19)

Confira na íntegra:

Leo Fraiman é psicoterapeuta, supervisor clínico e diretor da clínica Leo Fraiman de Psicoterapia e Gestão de Carreiras, também é especialista em psicologia educacional e mestre em psicologia educacional e do desenvolvimento humano pela Universidade de São Paulo (USP).