“Minha filha estava prestes a fazer uma viagem escolar. Tem ela nove anos. Ela ia, com sua turma, visitar uma usina de cana-de-açúcar, creio.
Fui levá-la, assim, à sua escola mais cedo naquela manhã. E lá estava o ônibus, a professora e os demais coleguinhas. Dispersos – fazendo jus ao contexto.
Bom, minha filha sempre foi tímida. Mas naquele momento criei noção do quanto. Ela não saía de perto de mim. E estava trancafiada por uma posição de rigidez, pelo tremor, corada… Em suma, trancafiada por uma pessoa que não era ela naquele instante.
Eu disse, pois:
– Vai lá com as meninas, querida.
Essas meninas estavam todas amontoadas, agregadas num canto. Divertiam-se, aparentemente. Inundando o ar com suas risadas infantis.
Minha filha, então, acata o meu conselho e vai até suas colegas de classe. E vai sob aqueles passos lentos que desejam veementemente serem interrompidos, bombardeada por um tremor sutil e exuberante.
Mas enfim, a forçada caminhada cessa. E num repente minha filhinha se encontrava lá, ao lado de suas coleguinhas. Não diz nada. Se porta apenas como uma estátua que arfa.
Desse modo, as meninas pouco a pouco vão indo embora, até que àquela a quem eu humildemente concedi essa insanidade de vida fica lá, sozinha, acabada em si mesma, e cortando a minha própria vida insana em pedaços tristes, mui tristes”.
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