Luiz Felipe Pondé na participação do evento INNITI DAY na FAAP comenta sobre a crescente incapacidade do ser humano de tolerar os outros. Veja abaixo a transcrição do trecho.

Dei uma entrevista a uma jornalista que estava chocada com o fato de que, na Alemanha, há pessoas que querem exigir no Estado alemão o direito de se casarem consigo mesmas. E, em outro momento, escutei uma aluna minha falando em tom de brincadeira: “Se eu pudesse, eu casava só comigo mesma”. Há um tempo um dinamarquês tentou se casar com seu cachorro, o que provocou um escândalo, mas, nesse caso, o cachorro é outro indivíduo, embora seja de outra espécie. Já casar consigo mesmo é um fracasso total da tentativa de tentar lidar com o contraditório.

Essa jornalista também estava impressionada porque a outra parte da pauta de sua matéria abordava uma tendência de jovens alemães, por volta dos trinta anos, que haviam permanecido sozinhos até então e, no momento, estavam procurando por parceiros, mas não conseguiam encontrar. E não conseguiam porque percebiam que os outros parceiros eram como eles, ou seja, não tinham paciência para tolerar o outro. Então, eles queriam deixar de ser sozinhos, mas não conseguiam, e como o s*xo é cada vez mais fácil, as pessoas não precisam criar instituições para satisfazerem seus desejos imediatos. O argumento da jornalista, basicamente, era o de que os jovens europeus, sobretudo os alemães, tinham dificuldade de encontrar alguém que valesse a pena.

A sociedade futura, se não acontecer nenhuma ruptura radical, marcha em direção a pessoas muito exigentes, que tendem a ser isoladas, que buscam por serviços inclusive afetivos/sexuais quando quiserem, mas que têm uma vida muito centrada em si mesmas. Essas pessoas deverão viver por muito tempo em famílias atomizadas, havendo cada vez mais uma diminuição de jovens, jovens estes que custarão muito caro. Os jovens têm ficado cada vez mais ansiosos, por exemplo, nunca houve uma geração que tomasse tanto ansiolítico justamente porque os pais exigem e esperam muito dos filhos, e estes têm que dar conta de muita coisa, sendo muito difícil ser perfeito – a perfeição pode nos matar rapidamente.

Transcrição feita e adaptada pelo Provocações Filosóficas do trecho da participação de Luiz Felipe Pondé no Evento INNITI DAY – Conference for Tomorrow, sobre o Futuro da Ética e da Sociedade realizado na FAAP no dia 23/08/2017

Confira o trecho: 

Luiz Felipe Pondé, possui graduação em Filosofia Pura pela Universidade de São Paulo (1990), mestrado em História da Filosofia Contemporânea pela Universidade de São Paulo (1993), DEA em Filosofia Contemporânea – Universite de Paris VIII (1995), doutorado em Filosofia Moderna pela Universidade de São Paulo (1997) e pós-doutorado (2000) em Epistemologia pela University of Tel Aviv.

Atualmente é professor assistente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, professor titular da Fundação Armando Álvares Penteado.