Pra começar que essa palavra Desempregada é um tanto estranha. Que já dá aquela sensação de desespero, de culpa. Parece que estou em casa sentada sem fazer nada. E de vez em quando, bate aquela deprê de pensar que você tá aí, jogada no mundo, sem fazer algo de “útil” pra sociedade.
Estar desempregada nessa situação, nesse país, nessa crise? Difícil, né? Só se fala dela, se espera que ela se resolva, que a economia se recupere e que a gente se empregue e se torne novamente parte da galera que faz acontecer nesse mundão.
Mas pera.
Desde que fiquei desempregada, consigo caminhar com meu cachorro, tomar café da manhã com calma, escrever, ouvir tv (e desligá-la), entrar nas redes sociais (e sair delas com a mesma urgência), cuidar da casa, de mim, dos outros. Desde que estou sem “trabalho”, nunca tive tanto trabalho pra achar razões realmente sensatas que nos prendam das 08 às 18 hrs em algum lugar.
Já pensou que tem gente que sai de casa e o sol nem nasceu e só volta quando tá escuro? Eu sei, é normal né? Gente que passa meses sem ver o dia, sem olhar a tarde, sem parar pra apreciar uma brisa em um lugar qualquer. Essas pessoas, olham da janela fumê do alto do prédio, o dia ir indo, o relógio se arrastando, e a vida lá fora sorrindo esperando por elas, que nunca estão lá.
Confesso que eu sempre me pego sentindo verdadeira culpa de não estar trancada em algum lugar trabalhando. Eu sou normal, ora, tenho contas pra pagar, preciso de dinheiro como todo mundo. Mas de certa forma, essa liberdade em não ter compromisso de chegar, de ir, de voltar, de prestar contas é deveras libertadora.
Almoçar com uma amiga, estender uma soneca, cuidar das plantas, arrumar freelas pra tocar (muitas vezes mais prazerosos e mais trabalhosos do que meus outros trabalhos), essas coisas realmente me fazem refletir.
Me fazem pensar no valor que damos às coisas, e na importância demasiada que as vezes damos a nós mesmos e aos outros quando estamos trabalhando formalmente. As preocupações desnecessárias, o stress, as fofocas, o relógio que não anda, a roupa, a maquiagem, a estrutura, o não sentir, o não falar e tantas outras coisas vão vindo e te fazem entender como tem gente que larga tudo literalmente pra vender coco na praia.
Pensa bem aí..que parece que quanto mais a gente trabalha menos a gente vive. E não estou sendo hipócrita aqui, eu preciso dessa vida, e busco recolocação porque já disse, sou alguém como você. Mas me diz aí, cara, se quando o sol estrala lá fora, não te dá um comichão, uma vontade de estar fazendo outra coisa, sentindo o vento na cara, livre de compromissos sem sentido e de reuniões sem razão?
Faz um mês e meio que vivo entre a culpa e a alegria, entre a liberdade e o desespero de não conseguir, de não dar, de não chegar até o fim do mês. Insônia, cansaço, preocupação e outras coisas que rondam a cabeça de nós que estamos do lado de cá do muro, dançando a dança do desemprego, como diria o Pensador, e lutando por outras formas de viver.
Se essa sensação vai durar, eu não sei. Se esse desemprego vai permanecer, também não. O que eu sei é que eu pude parar o que estava fazendo pra poder vir aqui, e escrever este texto inspiração.