“O que é superproteção? Superproteção é você não permitir que o outro se frustre. Do que os meninos e as meninas têm medo hoje? Eles não têm medo do cuidado; eles pedem por cuidado.
Hoje um menino de quinze anos chega bêbado da festa, abre a porta do banheiro, faz xixi de toda aquela cerveja que ele guardara para expelir em casa de forma barulhenta a fim de acordar os pais, mas os pais tomaram remédio para dormir ou tomaram alguns neuróticos e, portanto, não acordam. Então o menino vomita, bate a porta do quarto, deixa rastros por todo o canto para ser cuidado. O desejo de ser cuidado existe, enquanto o medo de ser possuído pelo narcisismo dos pais é outra coisa.
O que é um pai superprotetor? É aquele que impede um filho de se frustrar e, desse modo, esse filho nunca voa ou cresce. De quê um filho precisa? De ser tão cuidado a ponto de ele começar a ter o desejo de desvencilhar-se desse cuidado e se cuidar. Quanto mais os pais cuidam, mais esse sujeito fica resistente à frustração e vai poder ter uma namorada, brigar com ela, ter um emprego, ser despedido, procurar outro e viver a era da sobrecarga suficientemente bem psicologicamente, sem ter que desenvolver uma depressão e/ou se “sui–dar.”
Esses dias, num programa de televisão, eu estava falando sobre como é assustador hoje, em nosso país, o número de “sui–dios”. O que são os “sui–dios? Além de toda a patologia inscrita no “sui–dio”, existe a dificuldade de suportar a frustração. Há adolescentes se “sui—-ndo” porque brigaram com o(a) namorado(a), ou seja, são pessoas que vivem em casa o amor psicopático, um amor que quando está por perto é avassalador, e quando está longe se transforma na indiferença.
Cuidar é você depositar em seu filho suas neuroses: você tem medo de que seu filho seja assaltado, medo de que ele use drogas, de que bata o carro e, em nome desse medo, o jogo é feito. O amor psicopático é não querer que o outro sofra, e aí você deixa o sujeito sem condições, principalmente hoje nesta era de sobrecarga. Superproteção é uma dificuldade que alguns pais têm de imaginar que o filho possa sofrer, enquanto o cuidado é permitir que ele sofra, mas estando ali presente”.
Transcrição feita e adaptada pelo Provocações Filosóficas da palestra de Ivan Capelatto: O amor na era da sobrecarga – Café Filosófico.
Confira na integra:
Ivan Capelatto é psicólogo clínico e psicoterapeuta de crianças, adolescentes e famílias. fundador do grupo de estudos e pesquisas em autismo e outras psicoses infantis (gepapi), e supervisor do grupo de estudos e pesquisas em psicopatologias da família na infância e adolescência (geic) de cuiabá e londrina. Mestre em psicologia clínica pela puc-campinas, é professor convidado do the milton h. erickson foundation inc. (phoenix, arizona, usa) e professor do curso de pós-graduação da faculdade de medicina da puc – pr. Autor da obra “diálogos sobre a afetividade – o nosso lugar de cuidar”.
Alguns pais confundem superproteção com cuidado, e acabam causando um transtorno comportamental nos filhos que durará para o resto da vida. Dr Ivan Capelatto comenta das consequências da superproteção dos pais.