Em um dialogo com o apresentador Ronnie Von no programa Todo Seu, Leo Fraiman fala sobre a culpa indevida que os pais carregam e por isso acabam mimando os filhos. Confira abaixo a transcrição do diálogo.
Léo Fraiman: “Pessoas que dizem ‘Não quero ter filhos’, ‘Eu quero adotar’, ‘Eu quero ter só um’, ‘Eu quero esperar’ estão sendo honestas, porque, quando tiverem, vão ter com amor, vão ter com cuidado. Vivemos na era do ‘rapidinho’: você lê algo na rede social rapidinho, come rapidinho, fala no telefone rapidinho. E filho não é rapidinho, filho dá trabalho”.
Ronnie Von: “Às vezes, há uma cobrança social para quem quer ter apenas um filho. As pessoas dizem: ‘Ah, só um? Ele precisa ter um irmãozinho’. Eu já ouvi muito isso, e, em alguns casos, o próprio filho pede”.
Léo Fraiman: “Nessa hora, o pai e a mãe devem falar assim: ‘Eu entendo que você queira um irmãozinho, e tudo bem você querer um irmãozinho, mas o que eu tenho para te dar é o meu amor, o amor pela sua mãe’. As famílias vão fazer um serviço melhor pelos seus filhos se ficarem menos culpadas e mais autênticas ao assumir. O pai não vem ao mundo para agradar ao filho, o pai vem ao mundo para ser feliz, para se encontrar e dar amor. E amor não quer dizer subserviência”.
Ronnie Von: “E outra coisa: as pessoas dizem ‘Não, tem que ter outro, porque criar filho único faz com que ele fique mimado’.”
Léo Fraiman: “Realmente há muitos boatos e teorias, mas não há nenhum estudo científico sério no mundo que eu conheça (e eu adoro esse tema) que mostre, por exemplo, que um filho que tem dois irmãos é mais ou é menos mimado do que um filho único. Isso porque o mimo não está no número de filhos, mas, sim, na intensidade da culpa, em geral, desnecessária, que o pai/a mãe sente. Geralmente, o que o filho precisa receber é segurança, afeto e uma boa escola. Pronto, o resto é privilégio. E os pais erram ao não perceber que estão dando privilégios, brinquedos, videogames e liberdades para compensar a sua falta de presença. Por isso que às vezes é melhor ter um filho só, bem-feito, com amor e do jeito que você quer – o resto a vida proporciona. E o filho, se aprender desde cedo a lidar com as faltas e a buscar com autonomia aquilo que quer, ele eventualmente vai proporcionar isso para si — e até para a família. Esse foi o modo como nossa geração viveu, porque tivemos o ‘não’. Não tinha papo! Se era ‘não’, era ‘não’. E eu falo para os pais: ‘Dê ao seu filho o direito de não ter, porque a fome é o melhor tempero, a falta é o disparador do empreendedorismo’. Filho mimado tem uma chance enorme de ser um adulto desgraçado”.
Transcrição feita e adaptada pelo Provocações Filosóficas do trecho do programa: Conversa sobre Filhos Únicos com Léo Fraiman – Todo Seu (02/06/17)
Confira na íntegra:
Leo Fraiman é psicoterapeuta, supervisor clínico e diretor da clínica Leo Fraiman de Psicoterapia e Gestão de Carreiras, também é especialista em psicologia educacional e mestre em psicologia educacional e do desenvolvimento humano pela Universidade de São Paulo (USP).