Estamos assustados e vivendo aos sobressaltos! Temos visto acontecimentos contundentes e de proporções horrorosamente desastrosas. Vidas ceifadas, tragédias anunciadas e a impressão de que a vida não recebeu o devido valor.

Assombroso é o fato de não ser apenas isso a nos surpreender negativamente. Já seria muito, por si só. Mas chamaram a atenção também a insensibilidade, e o sarcasmo mórbido com que muitos reagiram a esses fatos.

Quando foi que a dor do outro deixou de nos incomodar? Quando foi que deixamos de sentir junto com o outro e passamos a fazer piada da desgraça, só porque ela não é oficialmente nossa?
Causa preocupação, e certa perplexidade, os passos dessa nossa humanidade, que ruma para o futuro demonstrando ser cada vez mais desumana. Vemo-nos envoltos por comportamentos insensíveis, onde o cruel pretende se fazer parecer normal.

Augusto Cury afirmou que: “A capacidade de se colocar no lugar do outro é uma das funções mais importantes da inteligência. Demonstra o grau de maturidade do ser humano.”
Caminhamos ladeira abaixo, afinal. A falta de empatia é um mal grave que tem nos acertado em cheio. Ela tem levado um número cada vez maior de indivíduos a permanecerem isolados em suas zonas confortáveis, vivendo equivocadamente em bolhas particulares, sem se importarem com a dor que acomete o outro. O problema parece ser exclusivo de quem o sente na pele, e os corações doloridos por compaixão são cada vez mais raros de se encontrar.

É óbvio que cada tragédia é particular, sim. O sofrimento é maior para as vítimas que ela atinge diretamente. Mas a dor de um deve implicar no outro. O mal de um deve causar desconforto no outro. É fundamental saber se colocar no lugar. Indagações como: E se fosse comigo? E se fosse na minha família? Essas questões não podem deixar de nos incomodar, de mexer conosco.

Ver pessoas sofrendo, perdendo bens ou entes queridos precisa nos sensibilizar. A morte de um outro ser humano precisa despertar nossa comoção, além nos fazer refletir que somos frágeis, limitados e iguais.

Não dá para assistirmos às tragédias e não ficarmos desolados. Como ficarmos inertes enquanto centenas de pessoas desapareceram, soterradas em um mar de lama, ou quando adolescentes morreram queimados enquanto literalmente sonhavam e buscavam um futuro mais próspero?

As redes sociais potencializam nossa desumanidade. Diante dos nossos olhos passam frases e incitações de intolerância ao que parece “diferente” ou contrário aos nossos gostos. E sem vergonha alguma são lançadas ofensas como se fossem pétalas ao vento. Indiretas e alfinetadas já não encontram relevância, são “fichinhas” diante das atrocidades que temos visto. Parece cada vez mais normal não sofrer junto, não se solidarizar, não se sentir tocado com o sofrimento que devastou a vida de uma outra pessoa.

Segundo Dalai Lama, “amor, compaixão e preocupação pelos outros são verdadeiras fontes de felicidade.” Não à toa ele o disse. É através desses sentimentos e das atitudes em favor deles, que nos tornamos pessoas melhores, mais gratas e mais conscientes de que há uma infinidade de bênçãos escondidas na simplicidade do nosso cotidiano.

É claro que nem todos os corações tornaram-se pedras. Estaríamos perdidos, se assim o fosse. Uma certa música nos traz um pouco de alento: “A humanidade é desumana, mas ainda temos chance”. É necessário recomeçar, dessa vez por dentro, e resgatar os bons sentimentos que andam adormecidos.

Precisamos resistir ao grito de “descanse em paz, humanidade”. Porque, se não voltarmos a ser humanos de fato, nem paz nem descanso haverá.