A crescente ideia de que as regulamentações das redes sociais vão livrar as crianças de bandidos, enganadores e abusadores é, na verdade, uma demonstração da imensa incapacidade das famílias de cuidarem dos seus próprios filhos. Por que as redes sociais, as Big Techs e as empresas têm que ser responsabilizadas por coisas que os pais e mães podem fazer dentro de casa? A responsabilidade de educar, monitorar e impor limites no uso das tecnologias não deve ser delegada às empresas, mas sim aos pais.

A realidade é que um filho ou uma criança não será enganada, aliciada ou abusada se houver limites claros dentro de casa. Isso se dá quando pais e mães estão ao lado dos filhos, colocando regras e acompanhando o uso dos smartphones e celulares. O que vemos hoje em dia, no entanto, é uma negligência das famílias, que deixam seus filhos soltos no uso das tecnologias e acreditam que a responsabilidade de protegê-los deve vir das empresas ou do Estado.

Esses abusos e crimes ocorrem principalmente quando os pais não estão presentes, quando eles não sabem dizer não aos filhos e não sabem impor limites. Hoje, há uma ideia absurda de que a principal missão dos pais é fazer os filhos felizes a qualquer custo. Quando um pai ou mãe impõe um limite, dizendo “não” ao filho ou à criança, o medo é que a criança fique insatisfeita e diga “não gosto de você” ou “te odeio”. Essa falta de disposição dos pais para lidar com o desconforto momentâneo, com o choro e as birras dos filhos, é um reflexo de uma incapacidade emocional e psicológica de assumir o papel de educador.

É muito mais fácil para os pais delegarem essa responsabilidade ao Estado ou às empresas, pois assim eles podem se eximir da culpa. A desculpa seria: “olha, eu avisei, você não pode fazer isso porque o Estado ou as empresas limitaram”, em vez de ser o pai ou a mãe que, diretamente, tira o celular da criança ou do adolescente. Eles preferem ser amigos dos filhos e evitar o desconforto de ver seus filhos insatisfeitos. Preferem que a responsabilidade venha de fora, mas isso resulta em negligência dentro de casa. Pais que querem ser amigos, cúmplices dos filhos, ao invés de educadores, acabam criando uma geração incapaz de lidar com as frustrações da vida e com as consequências de seus atos.

Essa atitude também se reflete na maneira como as crianças são tratadas em outros aspectos da vida. Pais não deixam seus filhos brincarem com facas, ferramentas, fogo ou eletricidade, porque sabem os danos que esses objetos podem causar. Então, por que essa resistência absurda em colocar limites no uso do celular? Por que é tão difícil tirar o celular da criança ou do adolescente, mesmo sabendo dos riscos envolvidos? A resposta é que, mais uma vez, há uma incapacidade emocional dos pais em se posicionar. Eles preferem ser “os bons” e evitar o confronto, colocando a responsabilidade nas mãos de outras pessoas, como as empresas ou o Estado.

Hoje, o celular virou a “chupeta eletrônica” que os pais dão aos filhos sempre que eles estão agoniados, chorando ou pedindo algo. Em vez de conversar, brincar ou passar tempo com as crianças, muitos pais simplesmente colocam o celular na mão delas e as deixam à vontade, sem qualquer tipo de supervisão. Isso cria uma dependência das crianças em relação aos dispositivos, que, com o tempo, se torna uma forma de distração constante, sem que os pais assumam a responsabilidade de educá-las sobre os perigos do uso excessivo da tecnologia.

Esse comportamento está gerando uma geração de crianças e adolescentes incapazes de lidar com a insatisfação e com as consequências de suas próprias escolhas. Eles não sabem o que é ouvir um “não”, e quando enfrentam um limite, muitas vezes reagem de maneira extrema. E é nesse ponto que entra a “covardia” dos pais: eles querem agradar a qualquer custo, sendo “amigos”, e não educadores. Ao se omitir, acabam tornando-se cúmplices dessa geração incapaz de enfrentar as dificuldades da vida real.

A solução não está em criar mais leis e regulamentações para controlar o que os filhos fazem online, mas em assumir a responsabilidade dentro de casa. O Estado e as redes sociais não podem e não devem substituir os pais. O papel de educar, de impor limites e de monitorar o uso da tecnologia deve ser dos pais, e é isso que vai garantir que os filhos cresçam com uma base sólida de valores, respeito e responsabilidade.

Os pais precisam assumir a responsabilidade de educar os filhos, de dizer “não” quando necessário e de colocar limites. Quando o fazem, estão formando uma geração mais capaz de lidar com as dificuldades da vida, mais equilibrada e consciente de suas responsabilidades. Delegar essa responsabilidade para o Estado ou para as empresas é uma fuga da realidade, uma tentativa de eximir-se de uma tarefa que é fundamental para o bem-estar e o desenvolvimento dos filhos. As redes sociais e as empresas não são pais nem mães, e a verdadeira educação vem de dentro de casa, com o acompanhamento e a presença ativa dos pais.