Aos 22 anos há muita coisa que precisa ser dita. Sempre há palavras a serem expressas em qualquer idade, é verdade. Mas aos 22 transita-se de modo muito acabrunhado da adolescência para a vida adulta. Vai de cada um, de cada personalidade, de cada estilo, o jeito certo de encarar as dificuldades que surgem, as barreiras que se impõem e os limites que precisam ser reconhecidos. É nessa fase de crescimento pessoal que os ansiosos ficam mais ansiosos, os amedrontados passam a sentir mais medo e os perpetradores dos sete pecados capitais passam a exercitá-los com mais afinco. São nesses tempos de juventude (mentiu quem disse que essa idade é dos revolucionários) que a gente sente a necessidade de se posicionar frente aos fatos do cotidiano – familiar e social –; em que nós passamos a firmar de uma vez por todas as nossas crenças e descrenças – mesmo que elas venham a ser alteradas mais a frente; onde nós sonhamos com o ápice quando o que há ao redor é pura fragilidade; onde a gente inverte o resultado da soma de dois mais dois só pra ver no que dá tal provocação.
É sutil, delicada e fina a juventude, a jovem e o jovem. Por isso que aos 22 grita a necessidade de ser sincero consigo e com outros, jogando limpo, esclarecendo de uma vez por todas quais armaduras nós carregamos em nossos braços para nos proteger do raio apocalíptico das turbulências do viver diário. Viver. Viver um dia de cada vez. Como se não houvesse amanhã, mas tendo em mente que há. Ouvindo os sussurros da voz boa e da voz má no nosso ouvido. Do anjinho e do demônio. Tentando deter o “trevoso” e apelando para o angelical detentor da coroa na cabeça. Viver. Viver na corda bamba. A juventude tem disso. Juventude. É o título de um dos mais lindos filmes (o mais lindo segundo Godard) de Bergman. Juventude. É o título de uma fase da vida, daquele labiríntico ciclo vital que a gente aprende na aula de ciências na escola. Nascer, crescer, reproduzir e morrer. Tem gente que só nasce. Não cresce. Não reproduz por impossibilidade ou opção. E morre. Mas talvez morrer pra uns e outros seja só a continuidade de uma vida morta. De uma dissonância do eu com o nós. Da parte com o todo. Do tijolo com a parede.
Jovem, estado privilegiado – mas é preciso dizer: estado de alma não de corpo.
Os 22, ah os 22… Quem não já ouviu falar daquela brincadeira de que são dois patinhos na lagoa? Bingo! Aos 22 há muita coisa a ser vomitada. Sempre há aquela “coisinha” que nos faz pôr pra fora o veneno… Ácido, esdrúxulo. Quando eu fizer (ou não fizer) 23, 24, 25 ou 50 quem sabe, serei muito grato pelo passeio ziguezagueante dessa eterna criança nas trilhas de um jardim.
Recomendações Cinematográficas
Título: Estados Unidos pelo Amor
Direção: Tomasz Wasilewski
Nacionalidade: Polônia/Suécia.
Duração: 96 minutos
Gênero: Drama
Na Polônia, em 1990, o país vive um momento eufórico de liberdade e incerteza com o futuro. Nesse contexto, quatro mulheres decidem mudar suas vidas e lutar por suas felicidades. Agata (Julia Kijowska) é uma jovem mãe em um casamento infeliz que se refugia em um relacionamento impossível. Renata (Dorota Kolak) é uma velha professora fascinada por sua solitária vizinha Marzena (Marta Nieradkiewicz). Iza (Magdalena Cielecka), irmã de Marzena, é uma diretora apaixonada pelo pai de um dos seus alunos.
Título: Lemon Tree
Direção: Eran Riklis
Nacionalidade: Israel
Duração: 108 minutos
Gênero: Drama
Salma (Hiam Abbass), uma viúva Palestina, vê sua plantação ser ameaçada quando seu novo vizinho, o Ministro de Defesa de Israel (Doron Tavory), se muda para a casa ao lado. A Força de Segurança Israelense logo declara que os limoeiros de Salma colocam em risco a segurança do ministro e por isso precisam ser derrubados. Salma leva o caso à Suprema Corte de Israel para tentar salvar a plantação.
Título: Va Savoir
Direção: Jacques Rivette
Nacionalidade: França
Duração: 147 minutos
Gênero: Comédia
Um grupo italiano de teatro chega à Paris, uma das escalas da turnê da peça “Come Tu Mi Vuoi”, de Luigi Pirandello. O espetáculo é protagonizado por Camilla, também companheira de Hugo, o diretor do espetáculo e da companhia teatral. Ela é a única que tem origem francesa e está voltando a seu país natal, três anos depois de ter deixado Pierre, sua antiga e sufocante paixão, agora casado com a professora de dança Sônia. Ela reluta em reencontrá-lo, mas isso parece estar escrito pelo destino. Hugo também tem um segredo: ele veio à Paris para tentar localizar um suposto manuscrito, no entanto, Hugo encontrará a perturbadora Dominique. Do, como é conhecida, é seu elo de ligação com o manuscrito, pois é dona da biblioteca de um amigo de Goldoni, onde deve estar a peça inédita. Esses encontros e reencontros vão estabelecer conflitos insustentáveis entre “Quem Sabe?” trabalha com maestria as diferenças e coincidências entre espaços, questões públicas e privadas, tema também magistralmente abordado pela peça de Pirandello que a trupe encena.