Jamais poderemos nos culpar, achando que estamos sendo egoístas, ao romper com o parceiro de quem nada nos retorna, ao evitar o amigo que suga, o colega que debocha, ou nem telefona, ao falar verdades doídas a quem merecer, ao recusar o convite de quem não acelera o nosso coração.
Um dos preços que pagamos por viver em sociedade é vermos nossas atitudes atingirem a vida de outras pessoas, é não podermos agir ao nosso bel-prazer, sem analisar o raio de alcance de nossas ações. Fazemos parte de um corpo social, ao qual devemos nos harmonizar, para que não provoquemos quebras que afetem o caminhar daqueles que estão ao nosso lado.
Desde pequenos, somos ensinados a pensar nas consequências de nossos comportamentos, para que nos coloquemos no lugar do outro e não nos tornemos adultos egoístas e isentos de compaixão para com o próximo. Caso busquemos tão somente a realização de nossos desejos, sem levar em conta as pessoas que caminham ali ao lado, estaremos fadados a passar por cima da dignidade alheia, de forma injusta e, muitas vezes, cruel.
No entanto, é preciso que, nesse percurso, jamais nos esqueçamos de nós mesmos, de nossos anseios e desejos, de nossos sonhos. Não poderemos pensar tão somente no outro, negligenciando tudo o que pulsa dentro de nós, ou viveremos uma vida correta lá fora, enquanto nos quebramos por dentro. Com o tempo, nesse ritmo, não mais estaremos aptos a ajudar ninguém.
Teremos que saber até onde podemos nos distanciar de nós mesmos, qual o limite exato de nossa entrega, ou seremos anulados pelas necessidades dos outros. Nossa sobrevivência e nosso respirar com leveza em muito dependerão da atenção que dermos ao que somos. Abdicarmos de tudo o que nos define em favor do outro pode até parecer magnânimo, mas não tardaremos então a nos esvaziar de tudo aquilo que constitui nossa essência primeira.
Jamais poderemos nos culpar, achando que estamos sendo egoístas, ao romper com o parceiro de quem nada nos retorna, ao evitar o amigo que suga, o colega que debocha, o primo que nem telefona, ao falar verdades doídas a quem merecer, ao recusar o convite de quem não acelera o nosso coração. Nesses casos, estaremos tão somente priorizando a pessoa mais importante em nossas vidas, ou seja, ninguém mais do que nós mesmos.
Enquanto estivermos agindo com ética e retidão, sem ferir as pessoas ao nosso redor, não estaremos errando. É dessa forma que nos fortalecemos para estender ajuda a quem precisar, porque então seremos alguém capaz de oferecer algo, já que estaremos bastando a nós próprios.
Se não nos preservarmos naquilo que temos de mais precioso, condenaremos nosso destino aos descaminhos infelizes da anulação de todos os ideais que inundaram os nossos sonhos de vida, desde a mais tenra infância. E isso ninguém deveria merecer.