Em uma palestra para o Café Filosófico, Ivan Capelatto falou sobre a família saudável e sua relação com o que podemos definir como uma família barulhenta. Confira abaixo a transcrição do trecho.
“Como é uma família normal? Uma família normal e afetiva é uma família barulhenta, que briga porque tem luz acesa na sala, porque tem cocô boiando na privada, porque o filho tirou sete e meio na matéria de física da escola ou porque o filho está com o cabelo molhado em um dia de frio. Na família normal, a briga existe por causa do medo.
A pior família que existe é a família silenciosa, o pior casal que existe é aquele cujo namoro é silencioso. Diz a namorada ao namorado: “Bem, vou sair com meu primo que chegou da Austrália, primo de sétimo grau, e volto em julho”. E o bom namorado assente: “Ah! Tá bom”. Esse mocinho “corninho” não gosta da namorada, pois não teme perdê-la.
Certa vez, Luís Carlos, o meu filho, veio até mim e disse: “Pai, hoje é quarta-feira, vou numa festa de rodeio em Jaguariúna”. Na hora em que ele disse isso eu já senti raiva. Nem deu tempo de eu sentir medo, pois já gritei com ele: “Como assim vai a um rodeio numa quarta-feira?” Esse é o pai amoroso que tem medo de perder o filho. E tem o outro pai bom que diz: “Tá bom, filho. Leva o agasalho, pois pode ser que esfrie”. Todo o mundo acha isso maravilhoso, mas quem não tem medo de perder não consegue amar, gerando então a indiferença; o contrário de afeto é a indiferença.
Semana retrasada eu estive em Curitiba e em Londrina com o Secretário de Educação do Estado e com os professores do estado, e conversamos sobre a grande quantidade de sui—ios: só em um dia houve oito sui—ios em Curitiba.
Uma mãe veio até mim e questionou: “Doutor, por que ela fez isso comigo?” Respondo: “Mas ela não fez isso com você, ela fez com ela. Ela não te m*tou, porque se ela te m*t*sse tinha amor junto. Ela m*tou a si mesma. É a indiferença.” “Mas eu sempre fui boa.” Eis o erro, sempre deixar o filho fazer tudo o que quer. A mãe nem sabia que a menina estava se cortando; quem descobriu isso foi uma professora. Ela não via o corpo da filha.
Onde existe raiva existe vida. Quando a raiva vai terminando e vai surgindo o silêncio já não há mais jeito, já acabou. A raiva é a maior pulsão de vida que existe no ser humano.”
Transcrição feita e adaptada pelo Provocações Filosóficas da palestra “Como é a dinâmica e psíquica e comportamental do sujeito Humano no séc. XXI com Ivan Capelatto.
Confira o trecho:
Uma família barulhenta, para a psicologia, é uma família saudável pois ela tem medo e por isso cuida dos seus entes queridos. Uma família silenciosa pode carregar muitas angústias e negligenciar suas relações.
A pior família que existe é a família silenciosa, e como é uma família normal? Uma família normal e afetiva é uma família barulhenta, que briga porque tem luz acesa na sala, porque tem cocô boiando na privada, porque o filho tirou sete e meio na matéria de física da escola ou porque o filho está com o cabelo molhado em um dia de frio.
Ivan Capelatto é psicólogo clínico e psicoterapeuta de crianças, adolescentes e famílias. fundador do grupo de estudos e pesquisas em autismo e outras psicoses infantis (gepapi), e supervisor do grupo de estudos e pesquisas em psicopatologias da família na infância e adolescência (geic) de cuiabá e londrina.
Mestre em psicologia clínica pela puc-campinas, é professor convidado do the milton h. erickson foundation inc. (phoenix, arizona, usa) e professor do curso de pós-graduação da faculdade de medicina da puc – pr. Autor da obra “diálogos sobre a afetividade – o nosso lugar de cuidar”.