Um grupo de homens cegos, ouviram que um animal estranho, chamado de elefante, havia sido trazido para a cidade, mas nenhum deles conhecia sua forma. Então eles disseram: “Podemos conhecê-lo pelo toque, pois disso somos muito capazes.”

Quando eles encontraram o elefante, começaram a tocá-lo e discutir entre si. Cada homem tocou numa parte e, confiante de sua habilidade, discordava dos demais. Eles não percebiam que estavam tocando um animal enorme.

O primeiro homem, cuja mão pousou na tromba, disse:

— Este animal é como uma cobra grossa!

Outro cuja mão alcançou sua orelha, discordou:

— Este animal é como um leque!

O outro homem, cuja mão estava sobre a perna, riu dos demais e disse:

— O elefante é como um tronco de árvore!

O cego que colocou a mão na barriga do animal falou:

— O elefante é um muro!

Outro que sentiu o rabo do animal disse:

— O elefante é como uma corda!

O último, já irritado, sentia a presa do elefante e afirmava em tom de sabedoria:

— O elefante é como uma lança!

É assim que os homens se comportam diante da verdade: tocam apenas uma parte e acreditam conhecer o todo. E por isso continuam tolos.

E na sociedade essas divergências estão cada vez mais comuns, as pessoas acreditam terem total controle e visão do que é real, quando na verdade estão cegas e mal conseguem distinguir toda realidade.

E mesmo assim, propagam a ideia de que estão certas e que sabem do que estão falando, acreditam de maneira tola que a sua perspectiva sobre algo é a verdadeira e querem impor isso aos outros.

René Descartes, um dos mais notáveis filósofos da Era Moderna, fala justamente sobre esse problema em uma das suas mais importantes obras – O Discurso sobre o Método. 

“O bom senso é a coisa do mundo mais bem distribuída, pois cada um pensa estar tão bem provido dele que não deseja ter mais do que já possui. Isso demonstra que o poder de diferenciar o verdadeiro do falso — aquilo a que chamamos bom senso ou razão — é igual em todos os homens. A diversidade de nossas opiniões, contudo, não provém do fato de uns serem melhores do que outros, mas tão somente porque os homens não levam em consideração as mesmas coisas.”

E essa também é a conclusão da parábola: cada um dos homens, para compreender o elefante, não levavam em consideração as mesmas coisas. 

Cada um conseguia perceber apenas uma parte do animal. E o fato dos homens serem cegos e ao mesmo tempo certos da verdade, é provavelmente a maior lição a ser aprendida.

Nós não temos noção do todo, não importa o quanto inteligentes, não importa o quanto seus sentidos sejam apurados. O mundo e a realidade são muito maiores do que a nossa limitação humana nos permite entender. 

A verdade, é um conceito cultural criado, que muda de acordo com os sabores do tempo, quanto mais aprendemos e evoluímos, mais noção do todo nós temos e essa verdade muda.

Devemos ter muito cuidado ao criarmos raízes na verdade atual, esse solo pode mudar e se não tivermos capacidade de mudar junto, ficamos presos em um terreno infetil de ideias.

A parábola mostra como as conclusões apressadas frequentemente geram respostas erradas. E com isso concluímos com mais um trecho da obra de Descartes:

“Não é suficiente ter a mente sã, o principal é bem aplicá-la. As maiores almas são capazes dos maiores erros, tanto quanto das maiores virtudes, e os que andam muito lentamente podem avançar muito mais, se seguirem sempre o caminho reto, do que aqueles que se apressam.”

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