Em pleno calor do dia, um pai caminhava por estradas desérticas acompanhado de seu filho e de um jumento. O pai estava montado no animal, enquanto o filho o conduzia, puxando a montaria com uma corda.

  • “Pobre criança!”, exclamou um passante. “Suas perninhas curtas precisam se esforçar para não ficar para trás do jumento. Como pode aquele homem ficar sentado tão calmamente sobre a montaria, vendo que o menino está se desgastando tanto para acompanhá-lo?”

O pai refletiu sobre o comentário, desmontou do jumento e colocou o menino sobre a sela. No entanto, não demorou muito até que outro transeunte dissesse:

  • “Que desgraça! O pequeno fedelho vai lá sentado como um sultão, enquanto seu velho pai corre ao lado dele.”

Esse comentário magoou o filho, que pediu ao pai que montasse também no jumento, às suas costas. Porém, logo à frente, uma mulher que passava resmungou:

  • “Já se viu algo como isso? Tamanha crueldade com o animal! O lombo do pobre jumento está envergado, e aqueles dois, sem vergonha, estão montados nele como se fosse um divã!”

Os dois, afetados pela crítica, se entreolharam e, sem trocar uma palavra, desmontaram. No entanto, mal haviam dado alguns passos quando outro estranho se aproximou e fez uma nova observação:

  • “Graças a Deus que eu não sou tão bobo! Por que estão conduzindo esse jumento se ele não serve para nada, nem mesmo como montaria para um de vocês?”

O pai, com um sorriso triste, colocou um punhado de palha na boca do jumento, passou a mão sobre o ombro do filho e disse:

  • “Independentemente do que façamos, sempre haverá alguém pronto para discordar da nossa ação.”

Em todos os aspectos da nossa vida, sobre o que tornamos público, sobre nosso comportamento pessoal, nossas opiniões, a maneira como nos vestimos, falamos, o que acreditamos e como vivemos, sempre haverá alguém dizendo que estamos fazendo a coisa errada. Todos nós somos frutos de uma linha única de existência, moldados por experiências de convivência, família, cultura e pela época em que nossas personalidades e cognições foram formadas. E é a partir disso que vemos o mundo. Vemos o mundo através de quem somos, e não como ele realmente é. Ninguém é capaz de ver o mundo como ele é. Só somos capazes de ver o mundo através de nossa própria perspectiva.

E é por isso que, muitas vezes, os tolos acreditam que a forma como vivem é a maneira correta de se viver, tentando, assim, forçar os outros a seguir sua visão de mundo. Porém, o sábio entende que cada pessoa tem seu próprio jeito de viver, que cada um tem sua realidade e que cada um toma as atitudes necessárias para sua própria sobrevivência e bem-estar. Cada um só consegue entender o mundo com as ferramentas cognitivas, culturais e físicas que foram trabalhadas ao longo da vida.

Portanto, não há como padronizar a existência para todos. A parábola do jumentinho, da criança e do pai é uma representação alegórica de um comportamento social profundo: todos vão criticar o que você faz. Porém, a solução para isso não está no outro. Você não pode controlar o outro. O outro vai falar, vai criticar, vai tentar forçar a sua perspectiva sobre você. Mas a resposta e a solução estão em você.

É você quem deve entender os limites do outro, sua capacidade ou incapacidade, e a partir daí, colocar limites nessa situação. Entender que o outro vai falar e criticar, mas você deve saber o que deve ou não ser levado em consideração. É fundamental que você compreenda que a sua realidade, a sua vontade, e a decisão de fazer o que é certo para você e sua família são o que realmente importa. O outro é apenas o outro, um sofredor como todos nós, alguém escravizado pela própria vontade.

Geralmente, o outro não pensa nas consequências de seus próprios passos, mas a responsabilidade de pensar é sua. Porque serão suas decisões que determinarão as consequências em sua vida. Escute o que os outros dizem, mas tenha consciência, lucidez e discernimento para aplicar apenas o que é certo.