
Ariano Suassuna sempre nos surpreende com seus causos, dessa vez ele conta uma divertida história de um presidente do Brasil que não era muito inteligente. ( Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.) Confira abaixo a transcrição adaptada da historia de Suassuma.
Nos tempos da ditadura, eu sempre me encanto com as histórias que circulam, aquelas que, para nós, com 68 anos, trazem boas memórias, como as de Abu Dhabi, por exemplo. Uma dessas histórias é sobre o presidente da época, que certa vez foi visitar uma escola. No dia seguinte, seus assessores lhe disseram:
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Presidente, uma coisa que causa muita simpatia é fazer perguntas aos meninos.
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Tá doido! E se eu não souber a resposta? – disse o presidente.
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Não se preocupe, a gente prepara tudo para você! – responderam os assessores.
E foi o que fizeram. O que vocês chamam de “cola”, nós chamamos de “fila”. Montaram uma fila com as perguntas e as respostas. Quando o presidente chegou à escola, ele puxou a fila e colocou os papéis sob a mesa.
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Quem descobriu o Brasil? – perguntou ele.
O menino respondeu:
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Pedro Álvares Cabral.
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Muito bem! E em que dia? – continuou o presidente.
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Em 22 de abril de 1500.
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Muito bem! E quem celebrou a primeira missa?
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O Frei Henrique de Coimbra.
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Muito bem! Agora vamos para o campo das Ciências Naturais. A quantos graus ferve a água?
O menino respondeu:
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Cem graus.
O presidente, com um sorriso, disse:
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Não, senhor. Noventa graus.
O menino, firme, respondeu:
-
Não, senhor. Cem graus!
A professora, morrendo de medo, interveio:
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Presidente, o senhor me desculpe, mas a água realmente ferve a cem graus!
E o presidente, olhando para a fila, respondeu:
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Ah, é mesmo… Quem ferve a noventa graus é o ângulo reto!
Agora, imagine o sujeito que inventou essa história, o gênio por trás disso! Eu fico admirado com essas histórias que circulam pelo Brasil, desde a Amazônia até o Rio Grande do Sul. É engraçado ver como o povo brasileiro ainda se anima com essas narrativas e como elas refletem a nossa história.
Em uma outra história, o presidente estava viajando pela Europa, de trem, e foi parar na França, onde se encontrou com Picasso, o grande pintor espanhol, e Stravinsky, o grande músico. Ao passarem pela fronteira, os três foram presos por não terem documentos em ordem. Picasso rapidamente desenhou uma tourada, Stravinsky escreveu algumas notas musicais, e ambos foram liberados. O presidente, por sua vez, ficou 40 minutos tentando provar quem era, sem sucesso. No fim, foi liberado sem conseguir justificar sua identidade, o que só reforçou sua falta de conhecimento e a sua posição entre os grandes.
Transcrição feita e adaptada pelo Provocações Filosóficas do trecho do trecho da palestra de Ariano Suassuna promovida pelo Sinpro SP (29 de setembro de 2011)
Ariano Suassuna foi idealizador do Movimento Armorial e autor das obras Auto da Compadecida e O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, foi um preeminente defensor da cultura do Nordeste do Brasil.
Foi Secretário de Cultura de Pernambuco (1994-1998) e Secretário de Assessoria do governador Eduardo Campos até abril de 2014.






















