Mario Sergio Cortella, na sua participação do projeto Sempre um Papo, falou sobre as diferenças entre o amor e a paixão. Confira abaixo a transcrição do trecho da fala de Cortella.
Às vezes me perguntam se eu acredito em amor à primeira vista e eu digo que jamais. Eu só acredito em paixão à primeira vista, porque o amor é a paixão domada, é a paixão acalmada, já a paixão é fogo, um momento, um incêndio. A paixão é aquilo que nos captura, tonteia e perturba, fazendo-nos entrar em uma relação de dependência. A paixão cria dependência; o amor cria reciprocidade.
Quando me perguntam se eu tenho paixão pelos livros, eu digo que já tive, mas que hoje tenho amor por eles. A paixão nos faz perder a racionalidade, pois ela é a suspensão temporária do juízo. Quando estamos apaixonados por um projeto, uma pessoa ou uma ideia, perdemos a noção de tempo e de lugar. Certa vez, eu voltava para minha casa na cidade de São Paulo, às 23h30min, e, a uns três quarteirões da minha casa num táxi, parei numa esquina onde havia um casal composto por uma menina e um menino, ambos com cerca de dezesseis anos, e eles estavam se beijando de forma muito intensa. Naquele momento, eles tinham uma paixão estupenda a ponto de abstraírem o lugar, o horário e tudo a sua volta, e isso é a suspensão temporária do juízo, ou seja, perdemos a racionalidade na paixão.
Sem a paixão, a vida não acontece, pois é ela que dá partida, que incendeia o ponto de início. No entanto, a energia contínua da paixão nos desgasta e consome. Quando a paixão é acalmada, se transforma em amor. Eu já fui apaixonado por minha esposa e, hoje, a amo. Claro que, em determinados momentos, revivemos momentos da paixão, mas não é a mesma paixão do início de nosso relacionamento – se fosse, após três meses, teríamos perecido.
Quando apaixonados, a ideia de tempo se altera. Por exemplo, se marcamos de nos encontrar com a pessoa por quem estamos apaixonados, o horário do encontro parece nunca chegar, e, no momento em que chega, ele transcorre em uma velocidade imensa.
Uma relação de amor é uma relação de afeto e de cuidado recíprocos que teve, sim, a paixão como ponto de partida. No início da vida de nossos filhos e netos, temos uma paixão tão grande por eles que queremos degluti-los, mas, aos poucos, esse fogo se abranda, transformando-se em amor. Isso vale para negócios, casas, bem como para tudo o que amamos.
Transcrição feita e adaptada pelo Provocações Filosóficas da vídeo: Mario Sergio Cortella no #Fliaraxá 2016 #SempreUmPapo
Confira o vídeo:
Mario Sergio Cortella, nascido em Londrina/PR em 05/03/1954, filósofo e escritor, com Mestrado e Doutorado em Educação, professor-titular da PUC-SP, na qual atuou por 35 anos.
É autor de diversos livros nas áreas de educação, filosofia, teologia e motivação e carreira.