“A vida é dura” – disse-me uma senhora – “Vamos definhando aos poucos, até que chegado ao fim, ficamos todos sós”. É, de fato, a vida às vezes se apresenta como uma terra seca, cheia de silêncio e indiferença, infrutífera para os nossos sonhos, fria para a nossa alma, vazia para os nossos sentimentos, pequena demais para que possamos brincar. Entretanto, por mais que a dimensão trágica da vida não deva ser descartada, é preciso educar os olhos para enxergar o que está por trás das trivialidades.
Por mais que queiramos ou tentemos, sempre haverá coisas que nos entristecerão, que diminuirão a nossa potência diante da vida. Isso ocorre porque existir também é sofrer. É saber que somos seres finitos, vulneráveis, imperfeitos, falíveis, incompletos, buscando entender a infinitude do tempo, as lacunas da existência, o mistério da morte. Buscando, mesmo que por instantes, experimentar o transcendente, o universal, o eterno, o indissolúvel. Porque, no fim das contas, queremos continuar a existir mesmo quando já não existirmos, a permanecer na impermanência, a sorrir mesmo no vale das lágrimas.
Mas, ainda que a compreensão da nossa finitude e, por consequência, da nossa limitação seja um processo doloroso, devemos também saber educar os sentidos para enxergar o que há de belo no mundo, pois ele está cercado de magia, em cada pequeno detalhe, que se prestarmos bastante atenção, conseguimos perceber.
A alma sabe disso e, portanto, sempre procura retornar para os lugares em que possa sentir o vento que corre entre as árvores ao entardecer, para que ele possa inebriá-la e dar-lhe serenidade, a fim de que aquilo que está vivo no mundo grite aos olhos e desperte o espírito que tem sede do infinito em nós.
Apesar disso tudo, muitas vezes nos perdemos. Entramos em ruas escuras e, de tanto medo, acabamos por nos esquecer do caminho de volta. Esquecemos de sorrir e do cheiro das felicidades. Esquecemos de nós e do que urge em nossa alma. Esquecemos que há coisas que tornam o mundo um lugar maravilhoso e que fazem, mesmo entre terra seca, erguerem-se jardins de algodão doce, para que provemos da eternidade das nuvens e sejamos mais que partículas fugazes que definham pouco a pouco.
“A vida é dura” – disse-me uma senhora. Mas, é entre os espinhos que se escondem as rosas e no escuro da noite que aparecem as estrelas. Há de se enxergar aquilo que nossa cegueira insiste em não ver, porque, por mais que nossa alma esteja nebulosa e despedaçada, sempre existe algo que nos faz querer viver e coisas que nos guardam dentro delas. São nesses espaços, nesses diálogos, que o divino do mundo se estabelece, que a poesia nos tira para dançar e que somos infinitos. A vida é dura sim, mas nela também há belezas, há de se educar os olhos, essas janelas da alma, para que ao ver, possamos sempre enxergar.