Mesmo correndo o risco de ser injustamente interpretada como insensível ou algo do gênero, eu não vou me calar, e escrevo isso com muita propriedade, pois já presenciei muitos relacionamentos que foram constituídos com um inteiro e o outro pela metade, para não dizer aos farelos.
Eu sei que, usando a emoção e o sentimentalismo, poderíamos pensar da seguinte forma: uma pessoa inteira, ao se relacionar com outra “pela metade”, estará atuando como um agente de cura para que o outro fique inteiro também. Entretanto, essa “equação” não funciona no universo dos relacionamentos, na prática, essa operação desastrosa.
Entenda, sabemos que um amor fresquinho, especialmente após uma longa temporada de solidão, promove um verdadeiro milagre na vida dos felizardos que o encontram e têm a oportunidade de vivê-lo, afinal, um amor novo traz sempre aquele pacote de sensações maravilhosas capazes de promover uma verdadeira ressurreição na vida dos envolvidos.
O sujeito “pela metade” ao qual me refiro aqui é aquele que acabou de sair de um relacionamento, geralmente contra a vontade dele, estando, em consequência disso, mergulhado num intenso sofrimento.
Dependendo do contexto em que se deu a ruptura do relacionamento, essa pessoa estará carregando uma “mala” emocional bastante pesada contendo os seguintes “produtos”: mágoa, autoestima destruída, frustração, sensação de fracasso, ciúme, revolta, e um que é unanimidade nos casos em que o término do relacionamento se deu em consequência de traição: a necessidade de dar o troco. Conseguiu identificar onde o x da questão?
Compreeda que uma pessoa nesse estado não terá nenhuma condição de criar um vínculo saudável com alguém, aianda que ela tenha a intenção. O foco dela será, muito provavelmente, provar a si mesma, e, principalmente ao ex, que a fila andou. A motivação para ela iniciar um novo relacionamento, no geral será a vingança, quer algo mais nocivo que isso? Sem contar que ela estará muito presa emocionalmente ao recente passado. Ela não terá condições de ofertar nada a ninguém, ela estará com as emoções adoecidas e, emocionalmente, fora do eixo.
Nesse contexto, a pessoa inteira será nutrida emocionalmente pelas migalhas do doente, o que poderá desencadear um desequilíbrio nas emoções dela, tornando-o, também, uma pessoa pela metade. Enamorar-se de alguém que está ao nosso lado apenas fisicamente (e olhe lá) é um verdadeiro golpe para a nossa autoestima, é como sentarmos à mesa com muita fome e termos que nos conformar apenas com os farelos que nos oferecem. A pessoa inteira estará ali cheia de amor para dar, transbordante de energia e entusiasmo e, ao seu lado, alguém totalmente apático, com a mente sempre distante visitando sabe-se lá quem e onde.
Uma pessoa inteira com o outro pela metade, seria algo perfeitamente comparável a uma Mercedes com um motor de fusca, um verdadeiro desperdício, a coisa não flui, não engata, aliás, na melhor das hipóteses, poderá engatar uma grande amargura e frustração na vida daquele que entrou com o coração cheio de motivação.
É fundamental, ao iniciar um relacionamento, fazer uma sondagem no estado emocional do outro para, dessa forma, ter a certeza das motivações e intenções dele. Não é questão de ser paranoico, é simplesmente uma atitude de zelo para com a sua saúde emocional e dignidade, pois creio que ninguém em sã consciência estará disposto a ofertar amor para receber apatia e indiferença como retribuição.
É muito comum as pessoas se divorciarem no papel e continuarem com a alma comprometida, e, para compromisso de alma ainda não foi instituído nenhum tabelião para anular, vale lembrar que este tipo de compromisso dispensa registro em cartório e testemunhas, ele se basta.
Já diziam os antigos: prudência e água benta não fazem mal a ninguém. Cuide-se!